PERDÃO, COMO DEVE SER?
            Sempre encontro dificuldades na compreensão de como deve ser exercido o perdão. Na palestra que realizei hoje à noite em Ceará-Mirim, que fala das famílias-problemas, e que foi abordado o tema do perdão, encontrei fortes divergência na forma de ser o comportamento de quem pratica o perdão para com a pessoa que praticou contra si algum tipo de pecado, de ofensa.
            Posso estar errado nas minhas argumentações, portanto fui ao google e coloquei para pesquisa a frase: “a prática do perdão”. O primeiro site que surgiu eu fiz uma colagem e trouxe para cá, para trabalhar sobre ele argumentando sobre o que diz, para saber se descubro as raízes do meu equívoco, porque não consigo me fazer entender...
            A PRÁTICA DO PERDÃO
            Em um colégio cristão, um professor de teologia prática dava uma aula sobre perdão. Percebendo que era difícil tratar este assunto apenas na teoria, teve uma ideia: pediu que seus alunos trouxessem para a aula batatas em um saco plástico. Então, instruiu: - Escrevam nas batatas os nomes das pessoas de quem vocês têm algum tipo de mágoa, uma batata por nome. Depois, coloquem nos sacos plásticos e guardem nas mochilas. Vocês deverão levar essas batatas consigo por onde forem até terem permissão para se livrar delas.
            Então, aquelas batatas foram se deteriorando. Além do peso, tinham que suportar um terrível mau-cheiro. Assim, reuniram-se e pediram ao mestre.
            - Professor, podemos jogar esse lixo fora?
            Ao que ele respondeu:
            - Claro que sim. Devem jogar essas batatas podres fora, desde que, junto com elas, vocês também joguem fora toda a mágoa e os ressentimentos que elas representam. Caso contrário, o peso e o mau cheiro não sairão de seus corações.
            Depois dessa historieta o autor coloca um trecho da carta de Paulo a Filemon (1-25) que não irei reproduzir aqui, e sim as considerações que ele faz da leitura da carta.
            O perdão é uma prática essencial do cristianismo que tem o poder de libertar as partes envolvidas. Liberta quem ofendeu de seu erro e liberta a parte ofendida da mágoa, do rancor, da raiz de amargura, que consomem o ser humano e minam sua comunhão com Deus, sua alegria de viver, sua saúde, sua vida.
            Filemon era um rico da cidade de Colosso que conhecera o Evangelho através de Paulo. Onésimo era seu escravo que fugiu, furtando-lhe algum bem.
            Depois da fuga, Onésimo conheceu Paulo, aceitou a fé e passou a servir o apóstolo na prisão.
            Nesta carta, Paulo intercede por Onésimo, pedindo o perdão e a restituição de sua posição na casa de Filemon.
            Perdoar é algo que desafia nosso orgulho, nossa natureza decaída, pois não há justiça no perdão. Aliás, não há coisa mais injusta do que o perdão, pois perdoar é não imputar culpa e o castigo que a pessoa os merece. Na verdade, só perdoamos pessoas que não merecem, afinal, se elas merecessem, não seria perdão, seria crédito.
            Um exemplo disso, e o maior deles, é o Senhor Jesus, que nos perdoou sem um mínimo de mérito de nossa parte.
            Nessa carta, Paulo faz um apelo ao perdão genuíno, dando algumas importantes características desse perdão.
            A base do perdão é o amor de Deus em nós.
            Paulo apela ao amor de Filemon. Este, não provinha de sua natureza humana, mas de sua fé. Esse amor é inerente aos cristãos e é ele que nos mantém unidos como igreja. Não é algo natural, mas vem do coração de Deus.
            Paulo ora para que esse amor seja eficaz.  
            O amor cristão não pode ser apenas teoria, frases bonitas. Amar envolve atitudes que por vezes contrariam nossa natureza, pois nossa vontade humana é vingar, é fazer justiça; mas Cristo deixou exemplo para que sigamos as suas pisaduras, marcadas pela renúncia, pela auto negação, pelo sangue de uma nova aliança e pelo amor do Deus Pai que enviou seu unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
            Paulo ensina que o perdão é baseado no amor.
            Assim, quem não ama não pode perdoar. Logo, quem não perdoa não ama e se não amamos, não temos a principal marca de Cristo, pois quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor.
            O perdão é um mandamento de Cristo, mas deve partir do coração.
            Paulo poderia dizer: é tua obrigação recebe-lo. Afinal, Filemon tinha uma igreja em sua casa, era um obreiro. Mas Paulo não age assim.
            Filemon também era um homem rico, poderia desprezar um escravo. Eu gostaria de dizer que não existe acepção de pessoas na igreja. Que as roupas, o carro, o dinheiro que têm não importam, mas essa não é a verdade. Há pessoas que amam por interesse, amam em troca.
            O verdadeiro amor cristão não é assim. O amor, o perdão não são dons celestiais a serem buscados em campanhas. Não adianta ficar orando pra Deus tirar a mágoa, o rancor. O verdadeiro amor é mandamento de Deus e o perdão é fruto desse amor. Tem que amar. Tem que perdoar. Mas, ainda assim, Paulo diz que deve partir de nós.
            Perdoar é uma escolha, uma dolorosa e contraditória escolha. Cristo escolheu perdoar, escolheu dar outra chance a pessoas que não mereciam e quando fez isso, abriu mão da nossa culpa, dos nossos erros, da justiça que nos cabia.
            Assim, perdoar é abrir mão do orgulho, da justiça própria, da vingança, de si mesmo, como Cristo da glória celestial. Sendo uno com Deus, foi humilhado como homem, sofreu, chorou, temeu e morreu para nos alcançar este tão precioso perdão.
            Perdoar envolve sacrifício.
            O nosso sacrifício é abrir mão de nós mesmos, de nossa medíocre justiça humana. É escolher. É dizer de quem nos feriu: “Merecia vingança, o troco, o desprezo, mas eu escolho dar o perdão, assim como eu não merecia, mas também recebi do meu Senhor.
            Perdão é receber de volta, é restituição.
            Nós costumamos oferecer um perdão medíocre: “Eu perdoo, mas é você lá e eu aqui”. Isso não é perdoar de fato. Perdoar é receber de volta. É dizer: não me deve mais nada, não haverá mais mágoa. Agora será daqui para a frente.
            O erro, a mágoa, geram separação, é claro.
            Mas se houver perdão, a comunhão é restaurada, sem desconfiança, sem mágoa. Não acredita? Também acho difícil, mas em Deus, isso é possível. Nele, que é a fonte de todo o bem, de todo o amor e de todo o perdão, o nosso exemplo maior, nosso padrão perfeito de vida, a relação, a amizade, o amor, podem ainda ser melhores do que antes. E em Deus eu acredito sem reservas.
            O perdão mexe com as emoções.
            Nos leva a renunciar tanto de nós mesmos que quando fazemos, tornamos mais parecidos com Jesus e podemos, sem ressentimento, nos aproximar uns dos outros e desfrutar a plenitude do amor de Deus. Quer mais do que isso?
            Perdão é deixar erros passados.
            Perdoar é esquecer? Não no sentido racional. Não se pode apagar as memórias. Mas perdoar é esquecer no sentido emocional. Tome Deus como exemplo. Quando você fala pra Deus:
            - É a segunda vez que cometo este erro!
            Ele responde:
            - Não me lembro da primeira.
            Deus por acaso se esquece? É claro que não. Deus escolhe tirar das lembranças
            Meus irmãos, perdoar é não dar lugar a pensamentos de mágoa. É abandonar, é deixar no passado. Não escolho os pensamentos que vêm à minha mente, mas escolho aqueles que alimento. Não devo alimentar o que me faz mal.
            A prática do perdão dá ânimo aos corações.
            Perdoar é um desafio doloroso que exige muito de nós, mas seu resultado não é terreno, é celestial. Os efeitos espirituais são irrefutáveis, pois perdoar é fazer a vontade de Deus e, ao agir assim, desfrutamos de sua bênção: corações são reanimados pelo amor de Cristo.
            E como é bom, como é importante um abraço sincero da pessoa que te perdoou ou da pessoa que você perdoou. Isso é coisa de cristão. É coisa de Deus.
            O perdão deve ser liberado em suas emoções. Isso te torna mais parecido com o Cristo e faz de você uma pessoa melhor.
            Quando estamos na posição de Onésimo e quebramos um relacionamento por erro nosso, devemos nos arrepender, buscar o acerto, buscar o perdão. Deus abençoará.
            Quando estamos na posição de Filemon, ofendidos, prejudicados, machucados por alguém que era próximo, devemos nos permitir perdoar, deixar o amor de Deus fruir em nós.
            Quando estamos na posição de Paulo, e vemos nossos irmãos com os relacionamentos rompidos, devemos ter empatia, amor cristão, fazer o papel de mediadores e promover a reconciliação.
          Uma boa reflexão e faz me sentir mais confiante com minha forma de pensar e agir. Parece que não estou tão errado como tentam passar nas discussões.