Posfácio
O "vasto mundo" do escritor e poeta J Estanislau Filho, é feito um oceano onde às vezes ficamos em um barco singrando águas calmas, e outras, somos tragados por temporais de vertiginosas ondas. Não é simples o universo do poeta. Uma floresta de árvores gigantescas da inominável loucura de sermos humanos, e também clareiras onde o campo é aconchegante e podemos nos deitar e ver o céu de nossas mais estonteantes miragens.
Nesta rara coletânea de contos e crônicas, eu diria que a cor que as define é o vermelho.
O poeta disseca a alma humana com vigorosos gestos, mas também com muita ternura. O sangue que verte, desenha histórias que vão além do realismo.
Elas têm, como no "A Moça do Violoncelo", o componente surrealista explícito que também aparece em "A Vingança de Frederico" e no mais forte deles, "Yolanda". As personagens emergem da profundeza de si mesmas para nos surpreender, chocar, e no seu realismo fantástico desvendarem o inconsciente humano, amoral, caótico, incoerente, anárquico, mas a nossa matriz dinâmica, o nosso avesso paradoxal, a nossa mais profunda verdade.
Há nesses escritos pessoas muito vivas, muito verdadeiras, gente mesmo, como as mulheres que traem seus maridos, o cafajeste que só gostava de mulheres casadas e que no final é um romântico, a mulher solitária que descobre o seu corpo ao se entregar a um rapaz muito mais jovem, o homem maduro e inseguro com a amante mais moça, ou o rapaz que volta ao passado e relembra a sua adolescência, o seu primeiro beijo, quando vai ao casamento da prima do interior.
No conto da diarista um encanto especial na simplicidade das relações entre ela e o namorado, personagens que revelam a intimidade de pessoas humildes, jovens que se expressam de forma crua, mas naturalmente, cuja vida humilde, na batalha da sobrevivência, é também mais colorida. Existe durante o decorrer das conversas entre os dois, a imagem sombria da doutora pairando ao fundo em contraste.
Quando pessoas se deixam levar por um louco somente porque ele parece ter o que eles não têm, uma vontade inabalável, uma determinação em se posicionar no mundo, "Ruim até o Fim" lembra o filme italiano, "O Incrível Exército de Brancaleone", humor cáustico que revela o espírito de manada das massas.
"Nunca te Esquecerei, Teresa" é um grande momento do escritor ao construir com flores um cenário de encanto apaixonado, para preparar um trágico desfecho entre uma mulher e um homem desequilibrado.
"O Bule Branco" é complexo, de um refinado toque de subjetividade do universo feminino no qual os homens gravitam, seres dependentes de uma estrela, cuja individualidade é contraditória, instigante. E ao mesmo tempo é uma mulher como tantas outras, mãe zelosa, ingênua. Sob essas águas tranquilas, no entanto, agitam-se conflitos edipianos de consequências imprevisíveis.
Mulheres e homens retratados com riqueza e colorido, seus pecados, suas culpas, seus medos, desejos, angústias, tudo que compõe os dramas humanos, vive nos contos do escritor e poeta com profundidade, força, mas também com grande leveza.
Há no todo da obra de J Estanislau Filho, a fuga do mero folhetim, do mero registro de enredos de vida, o que dá a ela o valor de uma literatura maior, pois vai muito além da palavra, transcende o mero relato, o mero registro de fatos. Dessa forma, uma flor que estava nos cabelos de uma mulher pode se transformar num elo entre esta mulher e o homem que a vê andando pela rua a esmo, distraída. A flor passa assim a ter uma dimensão que transcende o seu estar no mundo, para se constituir num elo entre as duas pessoas.
Não é simples o universo do poeta. É leitura para saborear em goles curtos e em cálices profundos. Uma leitura apaixonante que pede um tempo especial de maturação. Uma obra nascida da maturidade do poeta como um vinho que esperou para ser saboreado na melhor hora, reciclando matizes e sabores de uma longa vida de escritor. E que venham muitos livros mais.
Por tudo que vivenciei na a preciação da obra, só posso afirmar que foi fascinante e muito prazeroso compartilhar de um momento especial do grande poeta e do amigo para sempre.
Tânia Orsi Vargas - Professora e poeta.
O "vasto mundo" do escritor e poeta J Estanislau Filho, é feito um oceano onde às vezes ficamos em um barco singrando águas calmas, e outras, somos tragados por temporais de vertiginosas ondas. Não é simples o universo do poeta. Uma floresta de árvores gigantescas da inominável loucura de sermos humanos, e também clareiras onde o campo é aconchegante e podemos nos deitar e ver o céu de nossas mais estonteantes miragens.
Nesta rara coletânea de contos e crônicas, eu diria que a cor que as define é o vermelho.
O poeta disseca a alma humana com vigorosos gestos, mas também com muita ternura. O sangue que verte, desenha histórias que vão além do realismo.
Elas têm, como no "A Moça do Violoncelo", o componente surrealista explícito que também aparece em "A Vingança de Frederico" e no mais forte deles, "Yolanda". As personagens emergem da profundeza de si mesmas para nos surpreender, chocar, e no seu realismo fantástico desvendarem o inconsciente humano, amoral, caótico, incoerente, anárquico, mas a nossa matriz dinâmica, o nosso avesso paradoxal, a nossa mais profunda verdade.
Há nesses escritos pessoas muito vivas, muito verdadeiras, gente mesmo, como as mulheres que traem seus maridos, o cafajeste que só gostava de mulheres casadas e que no final é um romântico, a mulher solitária que descobre o seu corpo ao se entregar a um rapaz muito mais jovem, o homem maduro e inseguro com a amante mais moça, ou o rapaz que volta ao passado e relembra a sua adolescência, o seu primeiro beijo, quando vai ao casamento da prima do interior.
No conto da diarista um encanto especial na simplicidade das relações entre ela e o namorado, personagens que revelam a intimidade de pessoas humildes, jovens que se expressam de forma crua, mas naturalmente, cuja vida humilde, na batalha da sobrevivência, é também mais colorida. Existe durante o decorrer das conversas entre os dois, a imagem sombria da doutora pairando ao fundo em contraste.
Quando pessoas se deixam levar por um louco somente porque ele parece ter o que eles não têm, uma vontade inabalável, uma determinação em se posicionar no mundo, "Ruim até o Fim" lembra o filme italiano, "O Incrível Exército de Brancaleone", humor cáustico que revela o espírito de manada das massas.
"Nunca te Esquecerei, Teresa" é um grande momento do escritor ao construir com flores um cenário de encanto apaixonado, para preparar um trágico desfecho entre uma mulher e um homem desequilibrado.
"O Bule Branco" é complexo, de um refinado toque de subjetividade do universo feminino no qual os homens gravitam, seres dependentes de uma estrela, cuja individualidade é contraditória, instigante. E ao mesmo tempo é uma mulher como tantas outras, mãe zelosa, ingênua. Sob essas águas tranquilas, no entanto, agitam-se conflitos edipianos de consequências imprevisíveis.
Mulheres e homens retratados com riqueza e colorido, seus pecados, suas culpas, seus medos, desejos, angústias, tudo que compõe os dramas humanos, vive nos contos do escritor e poeta com profundidade, força, mas também com grande leveza.
Há no todo da obra de J Estanislau Filho, a fuga do mero folhetim, do mero registro de enredos de vida, o que dá a ela o valor de uma literatura maior, pois vai muito além da palavra, transcende o mero relato, o mero registro de fatos. Dessa forma, uma flor que estava nos cabelos de uma mulher pode se transformar num elo entre esta mulher e o homem que a vê andando pela rua a esmo, distraída. A flor passa assim a ter uma dimensão que transcende o seu estar no mundo, para se constituir num elo entre as duas pessoas.
Não é simples o universo do poeta. É leitura para saborear em goles curtos e em cálices profundos. Uma leitura apaixonante que pede um tempo especial de maturação. Uma obra nascida da maturidade do poeta como um vinho que esperou para ser saboreado na melhor hora, reciclando matizes e sabores de uma longa vida de escritor. E que venham muitos livros mais.
Por tudo que vivenciei na a preciação da obra, só posso afirmar que foi fascinante e muito prazeroso compartilhar de um momento especial do grande poeta e do amigo para sempre.
Tânia Orsi Vargas - Professora e poeta.