A filha das Flores de Vanessa da Mata
Não é Yade, Vanessa é nossa rainha. Depois de encantar nossos ouvidos, Vanessa da Mata desenvolve uma ficção que começa doce e romântica para gradativamente desabrochar em um turbilhão de acontecimentos inesperados. Giza como um encanto de menina, ao passar do tempo irá descobrir que a vida não é um mar de rosas, literalmente. A forma como o livro é narrado, começa com a pacata vida de uma moça do campo daquelas com flor grudadas no cabelo, e acaba com um mulherão experiente, com direito a salto alto e batom vermelho. A filha das flores veio no momento em que Giza está fervilhando dentro de mim, a Vanessa estabeleceu uma ponte da minha passagem de uma adolescente para a minha ‘vida adulta’ com todas as problemáticas sociais ainda vivenciadas no séc. XXI pelo nosso multi-país. O final feliz é um ponto de vista, o príncipe encantado foi tragado e descendeu em prole, mas as formigas no caminho de Giza persistiram em atrapalhar, ao assumir um presente aventureiro e prazeroso, descobre que seu passado lhe condena como se viesse lhe castigar pelas ‘boas novas’. Ao ler o romance proibido de Giza e Tito me remetia a uma trilha sonora da própria Vanessa, Olhos Ilegais:
“ Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa vida
E será uma maldade veloz
Malignas línguas
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância [...]”
A autora com humor e ironia traz a realidade encoberta de uma ficção poética e trágica, está aí o tempero do livro um agridoce de salivar os olhos. Além da genialidade dos títulos de cada capítulo, a autora com todas as angústias e dramas femininos, libertando Giza de seu corpo e alma partindo para a transcendência dessa personagem a partir de descobertas fundamentais para denominar-se humana. A declaração é para parabenizá-la pela obra assim como toda a equipe organizadora desse belo projeto.
Destaco aqui um trecho do livro que é sua doce descrição da passagem do dia para a noite:
[...] E, por último, a penumbra da escuridão: a noite retirando o corpo do dia, jogando-o no precipício do outro lado do mundo e tomando o seu lugar de uma vez. Para matar o dia, a noite usava um punhal especial, cravejado de brilhantes que, depois do feito, se distribuíam em espécimes conhecidas como estrelas[...]
Indico a leitura e Obrigada Vanessa da Mata por esse momento de leitura!