"SINHÀ", de Chico Buarque

Essa música retrata bem o período do Brasil colônia, época da escravidão. O lamento de um escravo que o patrão imagina ter visto sua mulher nua. O castigo que ele sofre faz com que chore pedindo perdão por um pecado que não cometeu. Chico incorpora o sofrimento do negro escravo vítima de uma acusação do qual se manifesta inocente. A data de lançamento dessa canção é 2012.

“Se a dona se banhou, eu não estava lá / por Deus nosso senhor eu não estava lá...Cantor atormentado / herdeiro sarará / do

nome e de um renome / de um feroz senhor de engenho / e das mandingas de um escravo / que no engenho enfeitiçou sinhá”

O grito de defesa do escravo. Ele quase implora dizendo que não se fazia presente no momento em que a “sinhá” se banhava. Era uma acusação falsa. Procura se justificar dizendo que estava na roça, distante portanto do local onde a sinhá estava. Ainda querendo convencer o patrão diz que não tem desejo mais por mulher alguma, nem sequer consegue ver quem possa despertar seu tesão. Não se preocupa com o que está acontecendo ao seu redor.

E pergunta, desesperado, a razão daquela tortura. Não tem motivos para impingi-lo tamanho sofrimento. Ele reafirma que nunca viu sinhá nua.

A diferença de raça se faz destaque. Os olhos azuis do algoz contra a pele negra do torturado. E ele apela para a fraternidade cristã. Benze-se na esperança de que assim possa tocar o coração do feitor.

Na aflição dos questionamentos disse que apenas chegara no açude caçando sabiá. Na mata sequer tinha interesse em ver sinhá.

Avisa ao patrão que na hora em que ela se despiu ele estava longe, trabalhando na moenda. Nem poderia ter essa visão que gostaria de ver. Não consegue compreender porque tamanha judiação. Marcar seu corpo com cicatrizes que jamais se apagarão. Pior ainda deixa-lo cego, furando seus olhos.

O escravo lamenta na sua linguagem de origem, mesmo que não seja entendido pelo seu algoz. Resolve então na comunicação cristã sensibilizar o torturado, falando o nome de Jesus. Um último apelo buscando a luz.

O lamento chega ao fim, na manifestação escrava, mas querendo se impor como se fosse o domina dor. A submissão do escravo sem a preocupação com o sobrenome do feitor. Ele com toda sua brutalidade, não impedia que se encantasse com a sinhá.

• Do livro UM OLHAR INTERPRETATIVO DAS CANÇÕES DE CHICO, a ser lançado brevemente.

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 15/11/2017
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