OS MISERÁVEIS DE VITOR HUGO

OBJETIVO DA ANÁLISE:

Apresentarei ao leitor um breve resumo e em seguida uma análise sucinta de uma obra do romantismo francês, obra essa escrita pelo escritor Vitor Hugo, a saber: o monumento literário Os miseráveis. Este é um livro escrito durante o exílio do escritor e poeta que, descontente com o governo e as instituições, nos deixou um legado repleto de crítica social e anseio pela liberdade humana.

Esse clássico está organizado em cinco partes e em cada uma delas há um panorama e um enredo peculiar. Na primeira parte, o autor narra o gesto de misericórdia do padre; a vida de Jean Valjean antes da sua conversão a uma vida de honestidade e retidão; e de Fantine (cujo nome também é o título desse primeiro tomo da obra), na qual ficamos sabendo depois que é a mãe de Cosette.

Na segunda parte, o autor conta a história de Cosette e da fuga de Jean Valjean com a menina. Na terceira parte, conhecemos a vida de Marius e seu envolvimento com um grupo de estudantes pró-revolução. Na quarta e quinta parte da obra, várias histórias se intercruzam, nos conduzindo a um final ao mesmo tempo glorioso e trágico.

RESUMO DA OBRA:

O enredo do romance conta a história de um homem (Jean Valjean) que vive em meio aos desafios de ajudar uma menina- a franzina Cosette-, ao qual amava como se fosse a sua filha. Ao mesmo tempo em que protegia com bravura a garota, tinha sempre que pensar num lugar seguro para abriga-la, pois a mesma era perseguida pelos seus "pais" de criação devido a necessidade que eles tinham de explorar o seu trabalho nos serviços da estalagem.

Jean Valjean é, de fato, o grande herói do romance de Vitor Hugo, um herói de sentimentos nobres, cuja inclinação à caridade é bastante notável ao longo da narrativa.

No início do enredo, ele ainda não havia desenvolvido essa nobreza. Pelo contrário: era um ladrão que fora condenado a uma pena inexorável, uma pena de trabalhos forçados em razão de haver roubado pão para alimentar a sua família faminta. No decorrer do tempo, foi liberto da prisão; porém continuou a cometer alguns roubos, até conhecer um homem religioso, um padre próspero de uma igreja que foi capaz de mudar sua vida para sempre.

Após ser regenerado através de um ato extraordinário de compaixão e de solidariedade, Jean Valjean, movido pelo sentimento de ajudar os necessitados, cumpre uma promessa que fez a uma mulher (Fantine) vítima de maus-tratos que trabalhou na sua empresa, a saber, a promessa de libertar a sua filha (Cosette) da estalagem dos thernardiers, um casal sem escrúpulos que não escondia sua predileção pelas suas filhas em detrimento da filha da falecida Fantine, morta em decorrência de uma doença incurável, uma doença contraída durante os momentos de grande sofrimento. Vale lembrar, que Cosette, filha de Fantine, precisou sair dos seus braços e ser levada à estalagem dos Thenardies por falta de condições financeiras da mãe, gerando na vida desta uma angústia profunda por não poder ficar perto de sua filha.

Passado um tempo, depois de libertar a criança das mãos mesquinhas do casal, Jean Valjean passa a morar com a menina; porém, a todo o momento precisavam fugir de Javert, um inspetor da polícia que descobre que Jean Valjean é um antigo forçado, cujo crime foi voltar a roubar mediante um ato ilícito um pouco antes de conhecer o padre, ou seja, logo após de ter sido liberto da prisão.

Mais adiante, após já ter ficado em segurança junto da sua filha de coração e depois de tê-la colocado num convento, Jean Valjean, que continua fugindo do inspetor Javert, descobre que um líder do movimento revolucionário ama a sua filha, como também descobre que a sua filha também o ama. Através de um gesto extraordinário de piedade, o nosso herói salva Marius da morte, a fim de trazê-lo para perto da sua filha de consideração, nos braços da apaixonada Cosette. Vale ressaltar, que Marius, numa luta ao lado de seus amigos contra as leis precárias e o governo injusto, havia sido seriamente ferido enquanto pelejava atrás das barricadas e, ao mesmo tempo, com armas em punho. Em meio a uma luta sangrenta em prol de um governo mais justo, Jean Valjean consegue esconder o futuro marido de sua filha num lugar mais seguro e, mais adiante, consegue libertá-lo da morte perpetrada pela polícia e o exército do governo através de uma boa assistência médica.

Enquanto acontecia uma onda de massacres contra os revolucionários que lutavam pela liberdade; enquanto muitos morriam em prol de um ideal revolucionário, Jean Valjean cumpre com o projeto de unir as duas almas através de um ato corajoso. Na verdade, o seu maior objetivo era tanto o de salvar o garoto rebelde, como também o de se libertar das garras do inspetor Javert. O ex- condenado não só escapou com o Marius inconsciente pelos encanamentos de esgoto de Paris, mas também demonstrou a sua superioridade moral sobre a desumanidade do frio inspetor de polícia, que acaba cometendo suicídio por perceber o absurdo de sua empreitada. Por fim, o próprio protagonista encerra a história com a demonstração de amor quase incondicional demonstrado pelos jovens, dando a liberdade para o amor se perpetuar na vida do casal apaixonado.

No final dessa história surpreendente e emocionante, Cosette e Marius se casam no melhor estilo, enquanto Jean Valjean se recolhe na sua solidão, esperando que se cumpram os seus dias na terra, até porque sentia que a sua missão na terra se findava e o seu objetivo de vida já estava consumado.

PEQUENA ANÁLISE DA OBRA:

Os miseráveis é, sem dúvidas, um dos livros mais maravilhosos da literatura francesa e mundial! É um clássico criado pelo escritor Victor Hugo, que ficou reconhecido mundialmente como romancista, dramaturgo, crítico literário, político e poeta do Romantismo francês. Apesar do realismo e das mazelas presentes no livro, não deixa de ser uma obra ficcional que retrata o drama dos personagens afligidos pelas injustiças e pela maldade; também é uma "estória" que revela a importância da solidariedade, da coragem, da caridade e da compaixão.

O enredo atinge seu ápice com alguns acontecimentos marcantes, como a libertação e a redenção de pelo menos três personagens principais com a ajuda da benevolência de homens inspirados pelo amor divino. Jean Valjean, Cosette, Marius, Javert são os personagens mais importantes desse romance, cuja vivacidade e profundidade dos enredos mostra ao leitor um panorama dos costumes da França no século XIX (uma nação afligida pela fome, pelos descasos e pela exploração; ao mesmo tempo insuflada por uma onda de ideias revolucionárias, ou melhor, por uma avalanche de princípios utópicos).

De fato, é uma literatura do mais alto nível, uma obra monumental e indispensável para quem se interessa em desbravar o interior do ser humano; e também para quem busca obter uma compreensão mais profunda da condição humana. Os miseráveis é uma literatura que retrata o cotidiano de uma época mergulhada em lutas ideológicas, uma época também assombrada pelos fantasmas da revolução francesa e pelas convulsões geradas pelas guerras entre o império Napoleônico e alguns países europeus hegemônicos.

Sempre recomendo esse livro de 1500 longas páginas, um romance épico de caráter religioso, moral e político. Vitor Hugo escreveu uma obra-prima de características profundamente românticas, valorizando ao logo da história a coragem do herói, o amor feminino, os sentimentos profundos que permeiam a vida dos personagens; e também enfatizando a preocupação com a beleza dos atos heroicos e do amor. É uma obra não deixa, por outro lado, de manifestar alguns traços do realismo, na medida em que aborda a miséria nas cidades impulsionadas pelo desenvolvimento do capitalismo e lugares marcados pelo abandono e pela exploração de vidas marginalizadas pela sociedade.

Na obra, percebe-se uma preocupação com a dignidade humana, bem como uma inquietação em decorrência das mazelas sociais. Além do mais, percebe-se uma urgência por grandes e profundas transformações na sociedade, seja através da luta em prol dos menos favorecidos, seja através da caridade e da filantropia. Também é evidente que o autor não retrata só as camadas abastadas da sociedade, mas as também os pobres, os marginalizados e os que alcançaram ascensão social repentina. Um dos maiores traços dessa literatura é a riqueza dos atos heroicos gerados pelo protagonista, um ser humano movido por um sentimento de compaixão e, ao mesmo tempo, de gratidão e solidariedade. Enfim, é a vitória de uma vida restaurada pelo amor de um homem devoto e religioso, que na sua gratidão, resolve fazer justiça a causa de uma menina órfã.

Não é um romance que mostra apenas as situações difíceis que os personagens viviam, mas também uma obra que descreve com minúcias os acontecimentos históricos e as instituições e organizações da época, especialmente a fábrica, a igreja, o convento e, ainda, os sistemas judiciário, político, policial e penitenciário.

O escritor resume o propósito de sua obra com esse magnífico prefácio, uma pequena reflexão que descortina a urgência da solidariedade entre os seres humanos numa sociedade: "Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século- a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância- não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis" (Victor Hugo, 1862)

FRASES DE VITOR HUGO NO LIVRO "OS MISERÁVEIS":

"E dizia mais: “Aos ignorantes, ensinem o máximo de coisas que puderem; a sociedade é culpada por não ministrar a instrução gratuita; ela é responsável pelas trevas que produz. Uma alma cheia de sombras, é onde o pecado acontece. A culpa não é de quem pecou, mas de quem fez a sombra.”.

“À noite, antes de dormir, disse ainda: “Nunca temamos com os ladrões nem os assassinos. Estes são perigos externos, pequenos perigos. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos, esses são os ladrões; os vícios, esses são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importa o que ameaça nossa vida ou nossas bolsas?! Preocupemo-nos apenas com o que ameaça nossa alma”.”

"O olho do espírito não pode encontrar, em lugar algum, mais deslumbramentos e mais trevas do que no homem; nem fixar-se em nada mais temível, complicado, misterioso e infinito. Há um espetáculo mais grandioso que o mar, é o céu; e há outro mais grandioso que o céu, é o interior da alma.”

“Enquanto podemos ir e vir em nossa terra natal, imaginamos que as ruas nos são indiferentes; que as janelas, os telhados e as portas não nos dizem nada; que as paredes nos são estranhas; que as árvores são como todas as outras, que as casas onde não entramos são inúteis, que as calçadas por onde caminhamos são simples pedras. Mais tarde, quando estamos longe, percebemos que aquelas ruas nos são caras; que aqueles telhados, aquelas janelas e aquelas portas nos fazem falta; que aquela muralhas nos são necessárias; que aquela árvores nos são queridas; que naquelas casas onde não entrávamos, todos os dias entrávamos; e que deixamos entranhas, sangue e coração naquelas calçadas. Todos esses lugares que já não vemos, que talvez não tornemos a ver, e dos quais gravamos a imagem, enchem-se de um doloroso encanto, nos voltam a lembrança com a melancolia de uma aparição […]”

“Assim é feita a juventude; enxuga rapidamente os olhos; acha a dor inútil e não a aceita. A juventude é o sorriso do futuro diante do desconhecido que é ele mesmo. Parece-lhe natural ser feliz. Parece que sua respiração é feita de esperança.”

''A verdadeira divisão humana é esta: os que vivem na luz e os que vivem nas trevas. Diminuir os que vivem nas trevas, aumentar os que vivem na luz, eis o objetivo. É por isso que gritamos: ensino! ciência! Aprender a ler é iluminar com fogo; cada sílaba soletrada cintila. De resto, quem diz luz não diz, necessariamente, alegria. Também se sofre com a luz; em demasia, queima. A chama é inimiga da asa. Queimar-se sem parar de voar, é esse o prodígio do gênio.Mesmo com conhecimento e amor, ainda se sofre. O dia nasce em lágrimas. Os iluminados choram, mesmo que seja apenas sobre os que vivem nas trevas.''

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 20/04/2017
Reeditado em 09/10/2021
Código do texto: T5976196
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