Gente Pobre (Dostoiévski)

Romance epistolar do grande escritor russo (seu primeiro livro), em que cita e coteja uma personagem da obra de Gógol e outra de Púchkin; é considerada a primeira manifestação do romance social.

Apenas, algumas das várias impressões que tive com a leitura desta obra de Dostoiévski:

O sentimento do velho Pokrosvi em relação ao filho de mesmo nome. Ele o ama muito, em virtude da grande semelhança com sua falecida esposa (mãe do rapaz). A atual esposa o maltrata muito, ao contrário da finada. Há uma projeção da imagem da mulher no moço, por parte do pai.

Na página 116, Varvara solicita a Makar que pare de se condoer pelos infortúnios alheios, assumindo a dor das pessoas, precipuamente, a dor dela. Senão, será o homem mais infeliz do mundo. Entendo que, Makar estava muito empenhado em ver Varava feliz, a quem nas cartas tratava por filhinha ou pombinha. De modo que, sua vida era tão miserável que sentir a dor da moça, talvez o fizesse esquecer da sua própria dor. Porém, Varvara enxergava por outra ótica. Para ela, o pobre infeliz estava somando a sua dor com a dela, andando mais maltrapilho e sem dinheiro do que antes de conhecê-la, gastando o seu pouco dinheiro lhe comprando coisas e lhe lhe enviando dinheiro. Para ela, ele estava aniquilando sua identidade e a própria esperança de ter uma vida melhor. Para Makar, o que importava era ver Varvara bem, assim como um pai deixa de comer para não tirar da boca dos filhos.

Na página 118, Makar demonstra se preocupar com o que dizem sobre ele, os dedos apontados e os risinhos sobre sua vida miserável.

Na página 118 a 121, uma sucessão de infortúnios acontecem com Makar no espaço de horas. É engraçado e triste. É aquele dia em que você pensa: “Eu não deveria ter levantado da cama” ou “Só falta um raio cair na minha cabeça”. O pessimismo é tão grande diante dos acontecimentos que o pobre coitado, sentado na sala de um senhor, vê os generais pintados nos quadros o olharem com ira. Essas páginas são bem hiena Hardy: “Oh céus! Oh vida! Oh azar!” Inconformado com sua penúria, ele bebe com os últimos copeques enviados por Varvara e piora sua reputação, deixando-o transtornado com sua honra objetiva.

Bela descrição da infância de Varvara é escrita na carta da página 129 a 132. O leitor é transportado a um momento mágico da moça com riqueza de detalhes. Ela afirma: “As lembranças são tão vivas, mas tão vivas, todo o passado surgiu diante de mim com tanta nitidez que o presente me parece tão turvo e obscuro...”

“Quando me lembro de você. É como se colocasse um remédio em minha alma dolorida, e embora sofra por você, mesmo esse sofrimento me faz feliz” (p. 143). Nessa passagem, o homem demonstra que não se importa mais a sua própria felicidade, pois a felicidade para ele está condicionada à felicidade da jovem.

Ao receber o dinheiro dado por compaixão do general da repartição em que trabalha (na Rússia antiga, havia 14 cargos na hierarquia do serviço público e alguns tinham os mesmos nomes de cargos militares), o velho conselheiro titular com 30 anos de serviço sente a sua dignidade restaurada com o aperto de mão do general. Não foi o dinheiro que marcou a sua alegria no ato, mas o aperto de mão como se fosse um dos generais. O gesto foi mais valoroso do que o dinheiro. Makar se sentiu reconhecido e elevado a um general. Pobre, de repente, só tem o nome, mas preza por esse valioso direito da personalidade.

Outra personagem, nas páginas 153 a 156, passa pelo momento de restauração da sua honra: Grochkhov. Este infeliz é absolvido no tribunal, após anos e diz : “ A honra é tudo que um homem pode ter na vida. "

O destino de Makar e Varvara é o que o ensaio fisiológico de Dostoiévski se propôs a mostrar: A realidade social de seu tempo, sem hipocrisia.

Ilton Paiva
Enviado por Ilton Paiva em 18/04/2017
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