Sangue Latino

Em 1973, o grupo " Secos e Molhados" lançou a canção " Sangue Latino", do português João Ricardo e de Paulo Mendonça, dois rapazes cultos, o primeiro , um músico filho do poeta João Apolinário, e o segundo um escritor, cineasta, roteirista.

O grupo já se auto denominando " artigos de primeira necessidade", o consumo básico, surgiu como uma luz maravilhosa nas telas dos telespectadores, e impressionou a todos, com a sua beleza plástica, a dança sensual, a fantasia mágica e ousada, o som leve e diferente, provocando a todos os olhares, até daqueles mais céticos e conservadores. Ney ( com uma voz forte e afinada), João Ricardo no solo e Gerson Conrad na base, se mantinham firmes no palco, catalisando todos os olhares. Os excelentes músicos de apoio, entre eles Willy Verdagues , um argentino radicado, que inicia a canção com um solo de baixo lindíssimo, para a seguir ser encostado pelos dois guitarristas. Uma beleza !

" Jurei mentiras , e sigo sozinho

Assumo os pecados...

Os ventos do Norte não movem moinhos

E o que me resta é só um gemido

Minha vida , meus mortos

Meus caminhos tortos

Meu sangue latino

Minha alma cativa...

Rompi tratados, traí os ritos

Quebrei a lança, lancei-a ao espaço

Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos

Meu sangue latino

Minha alma cativa ..."

Fala da opressão capitalista nos povos latinos da América do Sul, desde os colonizadores até os americanos dos dias de hoje, e deixa claro que é melhor viver pobre do que ter gente enfiado no seu quintal, se aproveitando , e querendo te administrar, ditando regras.

"Quebrei a lança/ traí os ritos", aqui é sobre os primeiros a se aproveitarem, os colonizadores espanhóis e portugueses, os que violaram as crenças, e semearam discórdias entre os povos.

Gosto muito da primeira frase " " Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados...", como é difícil seguir sozinho assumindo os pecados, o não fazer alianças perniciosas, e ter que jurar em falso para sobreviver, é aí que os "ritos são traídos".

"Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos...", somos um povo com identidade própria, com culturas antigas e que guarda a sua história com muito amor, a dos ancestrais. Isso é se dar valor de verdade !

Os compositores unem os "invasores" na mesma linha de desprezo, os conquistadores do século XVI aos americanos de hoje.

"Meu sangue latino ( Quanto orgulho), e a tristeza a seguir..."Minha alma cativa".

PS: Gosto de tocar as canções dos "Secos e Molhados" ao violão, aprecio seu estilo folk, incomum na música brasileira, as suas guitarras limpas, com a bela voz do Ney Matogrosso surgindo entre os acordes, palavras interpretadas, que dizem o tempo todo : " Ouçam o que tenho para dizer , prestem bem atenção, estou falando de nós " !

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 10/02/2017
Reeditado em 10/02/2017
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