Análise Literária do Soneto "mede esperança" POR EDNA FRIGATO
mede esperança
“(...) Mas a esperança do maldito cofre / Deixara-se ficar presa no fundo, / Que é última a ficar na angústia humana... / Por que não voou também? Para quem sofre / Ela é a pior dos males que há no mundo, / Pois dentre os males é o que mais engana.” (Alberto de Oliveira)
será o pior dos males a esperança?
tanta teima no impossível só faz
o teimoso se sentir incapaz...
incrédulo então nunca mais alcança
moribundo em mergulho fundo lança
má sorte aos outros!... e quem é capaz
enfim de seguir trilha incerta avança
terra inóspita de mantra: “aqui jaz”
será a esperança amiga da preguiça?
sempre entalado corpo inerte espera
a consumação de suas quimeras
se afundando na areia movediça...
pro sétimo dia pede uma missa
mas com fé espera renascer... já era!...
(Renato Passos de Barros)
23/01/2017
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Análise Literária do soneto: "mede esperança" por EDNA FRIGATO
Até então eu nunca tinha parado pra pensar sobre a questão da esperança sem as vendas do senso comum que nos são colocadas ainda em tenra idade, abordada aqui em seu Soneto. A epígrafe do parnasiano Alberto de Oliveira abre caminho para uma reflexão bastante oportuna.
Talvez as raízes da esperança estejam na própria deturpação do Cristianismo que com seu pragmatismo nos impõe comportamentos deterministas e nos levam a crer que a providência divina se encarregará de resolver todos os nossos problemas se tivermos fé e esperança. Esse pensamento além de ilusório é negativo, predatório, é afundar em areia movediça como diz você no quarto verso do terceiro quarteto. Esperança é algo tão irreal quanto incoerente. Como esperar algo que está somente e tão somente nas mãos do acaso? Algo sobre o qual não temos nenhum controle? Sentar e esperar as coisas caírem do céu é insanidade.
Esperança só tem validade quando o que eu espero depende única e exclusivamente de mim. Quando eu deposito toda a confiança e determinação nas minhas próprias capacidades, sejam elas físicas ou intelectuais. Não sei de onde vem a máxima: "dias melhores virão". Só tem a certeza de que dias melhores virão os que fazem jus a isso com ações práticas cotidianas. Esse meu pensamento se encaixa como um quebra-cabeça no seu, quando, no primeiro verso do terceiro quarteto, você questiona: "será a esperança amiga da preguiça?" Pois eu te respondo, Amor: penso que mais que amigas, a esperança e a preguiça devem ser irmãs gêmeas siamesas.
É fácil atribuir a forças sobrenaturais nossos fracassos e frustrações. Ler-te, Poeta, é sair do lugar comum, é pensar e, sobretudo, encantar-se com suas criações que, descontraídas, abordam não apenas suas dúvidas existencialistas, mas também assuntos ligados à política, sociologia, filosofia e a tantos outros assuntos com linguagem ricamente poética, ousada, e com o seu bom e velho sarcasmo. É com ele que termino essa minha observação literária, explanado com requinte poético no último dístico de seu invejável soneto decassílabo: "pro sétimo dia pede uma missa/ mas com fé espera renascer... já era!"