ANÁLISE DO CONTO CHAPEUZINHO VERMELHO SEGUNDO BRUNO BETTELHEIN

O texto Chapeuzinho Vermelho de Bruno Bettelheim analiza a versão escrita por Perrault que ´´começa (...) contando que a avó fizera uma capinha vermelha para a neta`` (Bettelheim, 204) dando origem ao nome da estória.

Por ser um conto de fadas muito conhecido por gerações, serão analisadas as partes consideradas mais relevantes, e dentro de uma visão psicanalítica, apontando ´´a ameaça de ser devorada (...) tema central de Chapeuzinho Vermelho`` (Bettelheim, 206), não sendo necessário aqui, recontá-la.

No texto, Bettelheim evidencia que ´´Chapeuzinho deixa o lar voluntariamente. Não teme o mundo externo, e sim reconhece sua beleza, e aí está o perigo. Se o mundo fora do lar e do dever se torna atraente demais, poderá acontecer uma volta a um comportamento baseado no princípio do prazer – que, presume-se, Chapeuzinho já havia abandonado em favor do princípio da realidade, graças aos ensinamentos paternos – podendo então ocorrer graves choques``(Bettelheim, 207). Devido a inexperiência se deixa levar pelos encantos do desconhecido, acreditando que as novas vivências são muito melhores que as recomendações dadas pela família.

´´O dilema entre o princípio da realidade e o princípio do prazer é afirmado explicitamente quando o lobo diz a Chapeuzinho: - Veja como são lindas as flores ao seu redor``. (Bettelheim, 207). Mostrando o lado prazeroso das experimentações, encobrindo as consequências reais da desobediência.

A figura masculina está presente na estória, porque ´´Chapeuzinho Vermelho é na realidade uma criança que já luta com problemas puberais, para os quais ainda não está preparada emocionalmente pois ainda não dominou os problemas edípicos``. (Bettelheim, 208). Os desejos pelo sexo oposto estão reprimidos e ela não consegue compreender o que se passa no seu interior, não sabe como administrar suas emoções, nessa fase inicial de busca da maturidade.

Os ensinamentos contidos nos contos de fadas, procuram encucar idéias internas de organização do caos psicológico que o indivíduo se depara no decorrer de seu processo de crescimento. A estória analisada não foge a regra, mascara alguns termos fortes, para o nível de compreensão do ouvinte, mas a mensagem é entendida e ajuda a compreender a necessidade de organização mental, para adquirir equilíbrio e evitar situações desastrosas. Esse equilíbrio só é conseguido com o amadurecimento individual.

Segundo Bettelheim, ´´Chapeuzinho Vermelho fala de paixões humanas, voracidade oral, agressão e desejos sexuais puberais. Opõe a oralidade educada da criança em maturação (levar os doces para a Vovó) à sua forma canibalista primária (o lobo que engole a menina e a Avó). Com sua violência, incluindo a que salva as duas mulheres e destrói o lobo quando o caçador abre a barriga do animal e coloca pedras dentro, o conto de fadas não mostra o mundo cor de rosa``. (Bettelheim, 218). Mas evidencia os problemas mais sérios do ser humano, que se não forem bem administrados poderão resultar em sequelas para o resto da vida.

Ao vivenciar determinados fatos geradores de conflitos internos, a pessoa adquire experiência para administrar melhor futuras situações pelas quais poderá passar, podendo obter sucesso nas tomadas de decisões ao longo da vida.

´´Devido à experiência, ela será capaz de decidir por conta própria. Todos os ouvintes adquirem uma sabedoria a respeito da vida, e dos perigos que os desejos de Chapeuzinho podem provocar``. (Bettelheim, 219). Ao ouvir a estória ocorre a perda da inocência através da experiência alheia. Através da vivência de outra pessoa. O indivíduo tem a possibilidade de aprender novos conceitos e valores, sem sofrer danos que podem ser gerados pela vivência da situação.

O conto procura mostrar os perigos de uma tomada de decisão errada, as consequências da desobediência às pessoas que orientam por amor, e até onde esse caminho pode levar.

´´Chapeuzinho perdeu sua inocência infantil quando se encontrou com os perigos do mundo e os de dentro dela, e trocou-os pela sabedoria que só os que renascem possuem: os que não só dominam uma crise existencial, mas também tomam consciência de que era a sua própria natureza que os projetava na crise``. (Bettelheim, 219).

Para finalizar, pode-se dizer que os contos de fadas nos ensinar muito da condição humana de aprender através do erro. E ao analisar as situações vivenciadas pelos personagens, segundo os conceitos da psicanálise, percebe-se a seriedade das situações encontradas em cada conto e o que pode ser aprendido com elas.

Referência

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

Ioleth Araújo

Altamira/PA, 2011

Universidade Federal do Pará

Faculdade de Letras

Curso: Licenciatura Plena em Letras – Inglês

Disciplina: Literatura e Psicanálise

Ioleth Araújo
Enviado por Ioleth Araújo em 19/11/2016
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