Antes de nós, antes de Adão

Não, este artigo não pretende abordar ideias criacionistas. Falarei sobre a obra fictícia Antes de Adão (Before Adam, originalmente), de Jack London, que apesar de levar o nome do primeiro homem do mundo, segundo a Bíblia, o leitor pode facilmente perceber a ligação com a crença de que simplesmente – e extraordinariamente - evoluímos. Apesar disso, London não faz nenhuma menção a Charles Darwin ou a sua teoria neste romance.

O nome da obra, pra quem conhece o escritor, já denuncia a relação com o despertar do instintos selvagens, a fuga da vida moderna e das obrigações do homem e o desejo de liberdade, características facilmente reconhecidas nos clássicos O Chamado Selvagem (1903) e Caninos Brancos (1910) ou até mesmo nas séries de contos autobiográficos publicados pelo autor sobre suas experiências nas "longas estradas da vida". Mas desta vez London deixou de lado os lobos e os homens, o protagonista desta aventura é o Dentuço, um macaco do Mundo Jovem, ou melhor, do Pleistoceno Médio, da Era Cenozoica.

Para colocar o macaco nesta história singular, London apresenta o narrador e protagonista, um cara relembra seus sonhos de infância. Ele era um menino como tantos outros enquanto estava acordado, mas durante a noite ele tinha essa experiência incomum de ser: um macaco no Mundo Jovem. Enquanto o menino crescia, o macaco de seus sonhos o acompanhava. London descreve esse fenômeno no livro como “semi-dissociação de personalidade”, que nada mais é do que duas personalidades, porém, uma consciente e outra subconsciente.

Geralmente sonhamos com elementos que estiveram presentes direta ou indiretamente durante o nosso dia, mas com esse menino foi diferente. Espontaneamente e de uma forma singular, o personagem nunca havia vivido experiências tão próximas como a de seus sonhos, nem mesmo uma “paixão”, como a que Dentuço sente por Ligeira, uma macaca muito inteligente e ágil.

A vida na floresta era basicamente assim: brincar, brigar e caçar. Dentuço brincava com Orelha de Abano, e junto com este, entravam em conflito com Olho-Vermelho, o antagonista da história e pertencente a uma espécie mais evoluída - isso justifica seu excesso de marra.

Diante de paixões, aventuras e perigos, é assim que se discorre essa história. Um clichê? Sim, mas dos bons. Jack London sabe escrever sobre animais sem que pareça uma fábula. Ele não dá voz aos seus personagens selvagens, ele dá voz ao aos seus instintos, aos seus sentidos. E nesta fantasia ficcional não é diferente. Agora cabe ao imaginário do leitor decidir se Jack London se baseou em algum fato, quem realmente foi essa pessoa e se este sonho foi realmente verdade, eu gosto de imaginar que sim, e que foi com London!

Publicado originalmente em:

http://aestanteamarela.blogspot.com.br/

Em: 16/05/2016