ANÁLISE LITERÁRIA DO SONETO " Meu lugar seu lugar" POR EDNA FRIGATO
meu lugar seu lugar
se se explode o lugar onde me cabe
enxergo o terror nos olhos de pena
lá sei que nada sei e ninguém mais sabe
se capta o saber uma antena apenas
de tu tudo afasto apertando o tab
ilha isolada: perigosa arena!
forte toureira de certeza plena
alvejada por aviões da fab
se se explode o lugar onde tô morto
não te sirvo mais de inseguro porto!
já era o touro de manto vermelho!
humilhado de joelhos no chão...
e espera do velho amigo um conselho: “
fecha os olhos! siga o seu coração!”
03/09/2016
RENATO PASSOS DE BARROS
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ANÁLISE LITERÁRIA DO SONETO "meu lugar seu lugar"
DE AUTORIA DE RENATO PASSOS DE BARROS, POR EDNA FRIGATO
Se fazer poesia é provocar um estranhamente no leitor, creio que estou diante de um grande feito poético, o qual deita-se sobre o olhar do leitor com a intimidade da palavra que busca ser desvendada. Que convida, instiga, provoca revelar-se de forma original e perturbadora. O título é apenas a ponta do iceberg do enigma que cerca todo o soneto.
Aparentemente sem propósito e nexo "meu lugar seu lugar" dá uma significação no mínimo inusitada e estranha para a questão usualmente norteadora 'tempo e lugar'. Nesse titulo, embora o sujeito poético esteja em primeira pessoa e, o pronome possessivo 'meu' esteja gritando em néon, percebe-se que o leitor vai precisar mais do que a velha e boa bússola para se orientar entre os enigmáticos.quatorze versos.
'Meu Lugar' seria o coração, o corpo, a morada da segunda pessoa do discurso? Não é tão elementar meu caro Watson, já que pode perfeitamente signicar o contrário. Pois bem, o primeiro verso do primeiro quarteto começa endossando minha dúvida: "se se explode o lugar onde me cabe". No terceiro verso, o adjunto adverbial de lugar "lá" marca, circunda, grifa a questão que levantei no começo do texto, quanto as significações de 'lugar e tempo'.
No segundo quarteto os primeiros véus da "esfinge" lírica, levemente escorregam pelos versos, deixando à mostra os primeiros contornos da força do interlocutor, para, imediatamente, expor sua fragilidade com uma boa dose de ironia, marca bastante peculiar na obra de Renato Passos de Barros. O dístico seguinte, retoma o mistério do primeiro verso do primeiro quarteto. Com esse instigante jogo de esconde-esconde, inicia-se o quarto e último quarteto desse insólito soneto no qual o eu lírico se rende perante a força declarada que o interlocutor exerce sobre a primeira pessoa do discurso.
Os versos: "já era o touro de manto vermelho!/ humilhado de joelhos no chão"... Como o touro que espera o golpe final na arena da tourada. Essa imagem do touro rendido aos pés da toureira é o momento mais bonito de toda narrativa. E como o propósito do Poeta, nesse poema é fazer o leitor tirar os pés do chão, encerra a narrativa com uma interrogação, quando no instante final do último tempo pede um conselho ao coração, como se ainda não tivesse se dado por vencido. Mas, em coro ecoa um sonoro "olé" na arena desse atraente e sedutor soneto. Parabéns Renato Passos de Barros!!
(Edna Frigato)
11/10/2016
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Se fazer análise literária é esclarecer o estranhamento
poético, obrigado, Amor, pelo delicioso convite para
esse divertido jogo - vela/revela. É como se eu fizesse
aniversário todos os dias! Beijo os lábios doces da Bela
Poetisa que tão carinhoso mimo me trouxe.
(Renato Passos de Barros)