Quem foi Clark Ashton Smith?
Entre os americanos mais jovens, ninguém executa a nota de horror cósmico tão bem quanto o poeta, artista plástico e ficcionista californiano Clark Ashton Smith, cuja escrita, desenhos, pinturas e histórias bizarras são um deleite para os poucos que têm sensibilidade para tal. […] Por sua ousada estranheza demoníaca e a fertilidade de concepção, o Sr. Smith talvez não seja igualado por nenhum outro autor, vivo ou morto. (H.P. Lovecraft in “O Horror Sobrenatural na Literatura”)
Pouco disseminado no meio literário, Clark Ashton Smith nasceu em 13 de janeiro de 1893 em Long Valley, Califórnia (EUA) e faleceu em 14 de agosto de 1961. Envolveu-se com escultura, pintura, poesia além de produzir contos de fantasia, horror e ficção científica. O escritor chamou atenção, com seus primeiros poemas, de autores já bastante conhecidos como Ambrose Bierce. Autodidata, Smith não conseguiu concluir a escola secundária devido a problemas psicológicos. Por conta da sua habilidosa memória fotográfica conseguiu educar a si mesmo lendo a Enciclopédia Britânica mais de uma vez e todo o dicionário Oxford. Aos 11 anos de idade começou a escrever ficção partindo de referências medievais, da história do livro “Mil e uma noites”, contos dos Irmãos Grimm e a obra de Edgar Allan Poe. Em 1922 recebeu uma carta de H.P. Lovecraft que se mostrava fã de sua escrita, a amizade entre os escritores cresceu e perdurou por 15 anos.
A escrita de Smith desenvolveu-se no ambiente místico do sobrenatural, de mundos mágicos, fundindo elementos da ficção científica com fantasia e poesia. Smith foi um dos principais inspiradores de Lovecraft quando o mesmo desenvolveu o ciclo de histórias cósmicas da criatura Cthulhu. A linguagem de Smith é balizada por vocabulários exóticos e científicos, mostrando sua habilidade com as palavras rebuscadas retiradas do dicionário, meio pelo qual se educou sozinho na juventude. Os elementos de suas histórias interplanetárias se apoiam mais na fantasia e lendas do que no cientificismo, o que difere do amigo Lovecraft.
Seus contos foram publicados em revistas do gênero como Tales Strange e Weird Tales, na segunda ele fazia parte de um trio de autores de peso que contribuíam na revista, o já mencionado Lovecraft e o consagrado Robert E. Howard. A ligação entre os três escritores era forte e quando Smith perdeu-os de maneira trágica, Howard cometeu suicídio em 1936 e Lovecraft morreu de câncer em 1937, Smith colocou um fim nas suas contribuições literárias para revistas. Nos 25 anos seguintes ele produziu menos e a qualidade da escrita decaiu se comparada ao seu início como escritor.
Smith sofreu grande parte da sua vida com problemas de saúde crônicos como a hipocondria e tuberculose além dos distúrbios psicológicos ligados a depressão, ansiedade e timidez extrema. Não sabia lidar com a fama, vivia recluso. Dedicou-se à arte das ilustrações, habilidade que também desenvolvendo sozinho como autodidata. Smith desenhava e pintava cenas fantásticas, paisagens alienígenas com um tipo de arquitetura sobrenatural, foi comparado com o francês simbolista Odilon Redon. Em 1935, se aventurou pela escultura, criando figuras fantásticas em materiais inusitados como pedra-sabão e arenito. Retratava as criaturas cósmicas criadas pelo amigo Lovecraft, além de outros objetos comuns, vasos, castiçais, estatuetas.
Nos últimos anos de vida parou de escrever ficção, mas sua obra continuou a ser publicada. Smith é uma grande referência na literatura fantástica e de ficção científica. Influenciou autores como Ray Bradbury, Lin Carter, Fritz Leiber, Theodore Sturgeon além dos já referidos Robert E. Howard e HP Lovecraft.
No Brasil, infelizmente, sua obra não foi publicada ainda, portanto, reuni alguns dos seus melhores contos traduzidos para português que podem ser encontrados no link a seguir. O trabalho de C.A. Smith merece atenção por ser um dos grandes escritores do gênero de fantasia/horror ainda pouco explorado/reconhecido no tempo presente.