O perdulário e o poupador: estilos diferentes para abordagens semelhantes do mesmo tema
"O cortiço" e "Vidas Secas": duas obras distantes no tempo e no espaço (o primeiro se passa no Rio de Janeiro, no final do século XIX e o segundo se passa no Nordeste do começo do século XX) costumam ser tradicionalmente estudadas separadamente. Nesta visão fragmentada, em que o autor de cada obra é analisado minuciosamente, forma-se a visão equivocada de que um seria antes o antagonista do que o complementar um do outro.
Sintetizando de maneira simplista e simplificada o que se comenta a respeito de um e de outro, tem-se que o realista Aluisio Azevedo se utiliza de um estilo grandiloquente e verborrágico, não economizando nos adjetivos e na farta descrição (contida muitas vezes em períodos compostos e longos parágrafos) dos ambientes e personagens. Já Graciliano Ramos, autor de "Vidas Secas" tem o estilo oposto: seco, conciso, sóbrio, poupa adjetivos e apresenta períodos simples e parágrafos breves.
Considerar somente este fato nos levaria a um julgamento precipitado. Entretanto, cada um aborda a mesma questão- o ser humano que vira bicho diante de um ambiente inóspito e insalubre- com a mesma sensibilidade e acuidade.
Fabiano e sua família são, em muitos momentos, mais "bichos" do que a cachorra de estimação, a pobre Baleia. Em comparação a isso, em "O cortiço", o criador (João Romão) e as suas criaturas, os miseráveis habitantes, portam-se como animais irracionais, pois resultam do meio e do momento histórico em que vivem.
Concluindo: é possível traçar paralelos entre autores e obras aparentemente distantes no tempo e no espaço, bastando-nos somente a visão do micro e do macro.