Verde que te quiero verde- Lorca .
"Verde que te quiero verde" é uma frase poética muito usada, que não é um título , se trata de uma frase extraída da poesia " Romance sonámbulo", que pertence ao que considero o melhor de Federico Garcia Lorca; "Romancero gitano", escrito em 1928 .
O poeta de Granada , um andaluz como eu, escrevia muito sobre a origem cigana no sul da Espanha, e toda essa mística de sangue mouro do nosso povo, uma cultura singular que pode ser compreendida através da sua obra.
Verde que te quiero verde
Verde viento , verdes ramas
El barco sobre la mar
El caballo en la montaña
Verde que yo te quiero verde
Con la sombra en la cintura
Ella sueña en la baranda
Verdes carnes, pelo verde
Su cuerpo de fria plata
Verde que te quiero verde
Bajo la luna gitana
Las cosas la están mirando
Y ella no puede mirarlas
Verde que te quiero verde
Grandes estrellas de escarcha
Vienen con el pez de sombra
Que abren el camino del alba
La higuera frota su viento
Con la lija de sus ramas
Y el monte, gato garduño
Eriza sus pitas agrias
Pero quién vendrá ? Y por donde ...?
Ella sigue en su baranda
Verde carne, pelo verde
Soñando en la mar amarga
Compadre quiero cambiar
Mi caballo por su casa
Mi montura por su espejo
Mi cuchillo por su manta
Compadre vengo sangrando
Desde los puertos de Cabra
Y si yo fuera mocito
Este trato lo cerraba
Aqui há um jogo de palavras e frases de duplo sentido, e que me agrada muito.
A cor verde é a cor andaluza ( da nossa bandeira), também a da pele parda dos ciganos , e aqui também se refere a juventude da moça na sacada, e a cor das figueiras.
"Grandes estrellas de escarcha" ( estrelas em cristais de gelo), que vem com a sombra de um peixe, e abrem o caminha "del alba" ( o próprio caminho, o que se escolhe), referindo-se a liberdade.
As figueiras arranham o vento com as suas folhas ásperas de lixa, e o monte "gato larápio", eriça " as pitas agrias" ( pitas são cactos cujo fruto são ácidos), e aqui o autor se refere ao preço que a liberdade cobra. A montanha cobra esse preço, "La Sierra Nevada" abraça Granada, e rouba vida, como um gato noturno.
O cigano aparece a cavalo , cansado de caminhadas, e sugere ao compadre a troca de seu cavalo, montaria e facão, por moradia, espelho e cama. Nota-se que deseja quedar-se definitivamente , já não é jovem suficiente para a vida cigana.
A moça da varanda espera enquanto sonha , pois é jovem e tem ilusões, também sonha com o mar. A cor verde está presente no poema inteiro, pois tem muitas interpretações; esperança, juventude , Andaluzia e por fim a morte.
Não publiquei o poema por inteiro, a metade somente, porque o achei um tanto longo, e a ideia estrutural está nesta parte.