Análise Literária do soneto “Vértice Lunar” de EDNA FRIGATO
"Quando a luz dos olhos meus / E a luz dos olhos teus /Resolvem se encontrar / Ai, que bom que isso é, meu Deus / Que frio que me dá / O encontro desse olhar..." (Vinicius de Moraes)
VÉRTICE LUNAR
Fito a cálida noite esplendorosa!
O dia se apagou, virou finado
No espaço o aro da lua prateado
Espalha no céu sua luz formosa
Lentamente as estrelas melindrosas
Adornam o sutil reino encantado
Alumbram meu olhar apaixonado
Pondo em minhas mãos um olor de rosas
Oh, Deus! Que saudade a lua me traz!
Lembra-me os olhos dele a noite breu
Qual espelho d'água onde vejo os meus
Só ele sabe a falta que me faz
Pudera eu estar agora em seu peito:
Abrigo do nosso áureo amor perfeito
EDNA FRIGATO
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
De toda manifestação artística que não lida com a expressão visual, a Literatura é a maior potencializadora de produções imagéticas. E dentro da Literatura, o verso talvez mais do que a prosa. "Vértice Lunar", soneto decassílabo da poetisa Edna Frigato, ilustra muito bem tal postulado. Belíssimo poema lírico cujo tom narrativo sugere ao leitor enorme potencial criacionista de imagens nítidas sobre o cenário onde ocorre a declaração de amor do eu-lírico feminino. A supremacia dos sintagmas nominais caracterizadores (os adjetivos) em detrimento às outras classe morfológicas (substantivos, verbos, pronomes, etc.) colabora para a descrição desse espaço físico, palco de um amor, naquele instante, platônico.
Portanto, os substantivos de maior relevância interpretativa são intensamente adjetivados com vocábulos de significação positiva, tornando o texto poético ainda mais belo, romântico e idealizado. Nesse sentido, as palavras: "noite", "dia", "aro", "luz", "estrelas", "reino", "olhar", "amor", "vértice" carregam os adjetivos "esplendorosa", "finado", "[da lua] prateado", "formosa", "melindrosas", "apaixonado", "sutil", "encantado", "áureo", "perfeito", "lunar". Tal constatação apenas sustenta a hipótese de que a intenção da autora do poema era aproximar seu leitor o máximo possível do local onde o eu-lírico confessa o seu amor. Simultaneamente descrito no texto, tal cenário gera uma saudade ainda maior do objeto amado.
"Vértice Lunar" é o "aro prateado da lua" como ponto mais alto e oposto ao eu-lírico. Mas também pode a lua significar o ponto equidistante entre o eu-lírico e seu amado se este também estiver namorando a lua no exato momento confessional da poetisa e houver reciprocidade saudosista. Daí que amante e amado estarão em lados opostos pelo vértice: o vértice lunar. Nesse caso, a lua é um dos elementos poético representativo de todo o texto. Ela é uma das metonímias do soneto. Os outros dois elementos representativos são os olhos (negros como a noite) e o espelho d´água representando a troca apaixonada de olhares: "Lembra-me os olhos dele a noite breu / Qual espelho d´água onde vejo os meus".
É nesse exato momento (no primeiro terceto) que a epígrafe com Vinícius de Moraes intertextualiza todo o poema. Já no último terceto, o eu-lírico feminino deixa escapar que esse amor não é tão platônico assim. Ao contrário, pressupõe-se que é uma separação momentânea e que tal relacionamento é tão real quanto concreto quando a autora reivindica fazer abrigo no peito do amado e usa, finalmente, o pronome adjetivo indicador de posse na primeira do plural "nosso" em "(...) nosso áureo amor perfeito", encerrando o soneto com um tom sereno predominante em toda a sua unidade, contrapondo-se, radicalmente, ao descabido passionalismo dos poetas românticos canônicos, escolásticos ou populares.
Portanto, Edna Frigato usa, em "Vértice Lunar", uma linguagem essencialmente figurativa e alegórica, apresentando elementos metonímicos do conteúdo temático pertinentes ao Lugar Poético descrito: "a noite esplendorosa"; "o aro da lua prateado"; estrelas melindrosas" tudo isso adornando o seu "sutil reino encantado". Apesar do discurso saudosista e da autora reclamar a ausência temporária do amado, "Vértice Lunar" não apresenta o sentimentalismo das Canções de Amigo medievais ou o tom lírico pueril do Romantismo escolástico. Mas apresenta sim, um vocabulário, esteticamente pictórico, e uma fluência rítmica tão elegante quanto clássica proporcionada pelos versos decassílabos. Parabéns, poetisa! Por mais uma Obra de Arte Literária!
Por RENATO PASSOS DE BARROS em 25/06/2016