PREFÁCIO
Prefácio de uma autobiografia que tem por título:
EU ACREDITEI EM MIM por Zurinéa Brito Mendes
Estou sentado num banco de um trem “Maria Fumaça” de olhos fechados, porém, não estou dormindo, apenas descansando da fadiga da viagem sob um sol escaldante. O sacolejar daquele veículo, movido à lenha e o atrito nos trilhos lançavam faíscas no ar. Meus pensamentos não se coordenavam. Havia um turbilhão de sons e imagens e a todo instante, abria os olhos e tombava a cabeça para a esquerda, ficava a contemplar as paisagens que passavam céleres, pela janela daquele trem. O calor era grande; mas apesar disso, vestia um terno de linho branco e camisa de gabardine também branca. Os sapatos engraxados e pretos brilhavam com a claridade. Na cabeça, ostentava orgulhoso, um chapéu coco...
...Não! Não sou uma personagem desta história. Mas, é assim que irá sentir-se quando começar a ler esta pequena-grande obra. Pequena no tamanho e grande na lealdade de suas raízes. A riqueza de detalhes em sua narrativa, certamente, o envolverá de tal maneira, que você se enxergará dentro da história, vivendo, sentindo e agindo como se fizesse parte dela.
É uma autobiografia narrativa em sua essência, onde as personagens com nomes fictícios falam pouco, assim como as pessoas da época, porém, com uma carga de verdade contagiante e enigmática, como se fossem parábolas, exalando a pura essência poética que a obra empresta.
A autora consegue narrar a história de sua vida e de seus antepassados entrelaçando com a história da Bahia e do Brasil pós-guerra. Fala com bastante conhecimento sobre a expansão demográfica e a revolução industrial e comercial. Não havia emprego e as pessoas tinham que se haver com criatividade para gerar renda, sofrendo a influência estrangeira que via no Brasil e na Bahia, um grande potencial agrícola com a perspectiva de tornar-se o celeiro do mundo. Pois aqui, “em se plantando, tudo dá”... Começaram a gerar riquezas à custa de muito trabalho e perseverança. A fome batia à porta dos mais humildes que procuravam emprego nas fazendas mais abastadas da região de Catui e se submetiam a trabalhos árduos (quase escravagista) a fim de levar o sustento para suas famílias.
A saga da família, aqui representada por nomes modificados a critério da autora, deixa claro a honestidade e a honradez de seus antepassados, mas, fala, acima de tudo, do brio e da determinação de uma mulher guerreira que não se deixou abater com a perda de alguns entes queridos e que diante de tantas dificuldades, venceu na vida, abraçando a nobre profissão de educadora, que era a vontade de seu pai e grande incentivador. Entretanto, ela não abraçou a profissão só por vontade dele. Não, esse também era seu ideal. E ela o fez com amor e perseverança. Acredito que ela não saberia fazer outra coisa, não por falta de capacidade, mas sim, porque já trazia no sangue a vontade incontrolável de lecionar e compartilhar conhecimentos. E, isso, ela fez e faz com maestria e muita competência.
Agora deixarei vocês embarcarem nesse trem e espero que façam uma boa leitura e uma boa viagem no tempo.
Salvador, 01 de julho de 2016
Beto Alves