Story of a vampire

Em meus tempos de juventude, quando cada fibra de meu corpo se incendiava de entusiasmo, uma de minhas bandas favoritas era o Cradle of Filth. O que, convenhamos, não devia espantar ao meu leitor de longa data conhecedor de minha obra.

Entusiasta da subcultura gótica, escritor de poesia romântica/ultrarromântica, é um tanto quanto óbvio que viria a apreciá-la em algum ponto de minha vida, e não vou negar que forneceu um prato cheio de inspiração a muitos trabalhos de minha juvenilia – inquestionavelmente, Dani Filth é um letrista incomparável e de erudição invejável, conhecendo temas que vão desde literatura oitocentista a figuras históricas. No entanto, com o passar do tempo, por mais que continuasse achando as letras do Sr. Filth interessantíssimas e bastante ricas em termos de alusões literárias e preciosismos estilísticos, a música em si declinou consideravelmente de qualidade.

Uma de minhas maiores reclamações é que, com a frequente mudança de membros, o Cradle of Filth perdeu sua essência anterior e veio a degenerar-se musicalmente – as composições elaboradas e quase que cinematográficas de seus primeiros quatro álbuns (focando em “Dusk and her embrace”, de 1996, que foi o primeiro que ouvi e o que mais me impactou) foram ficando cada vez mais simplistas, não oferecendo nada de novo. Esta constatação foi-me um imenso baque, e minha decepção incalculável.

Toda banda pioneira está fadada a ter imitadores, e os do Cradle of Filth não são poucos. Quase toda banda de black metal sinfônico se empenha em emular o estilo ou os vocais agudos do Sr. Filth – alguns conseguem, outros não. O único sucessor digno de assim sê-lo chamado, a meu ver, é o Lamia Antitheus, banca sueca que em 2004 lançou a demo “Story of a vampire”.

Mesmo não passando de uma demo, coisa que é constatada pela qualidade crua dos vocais e arranjos (parecem ter sido gravados numa caverna, o que é até charmoso), as melodias são complexas e envoltas numa aura de romantismo mórbido – coisa que o Cradle of Filth desaprendeu a fazer. Os vocais sussurrados tresandam a malignidade, acrescentando mais ainda ao teor vampírico, e humilhando completamente o Sr. Filth, cuja voz já não é mais a mesma há muito.

Que tristeza o Lamia Antitheus nunca ter lançado um álbum de estúdio completo! No entanto, só com esta demo já fico contente, por conseguirem com ela fazer algo melhor do que o Cradle of Filth (que, é seguro dizer, tornou-se uma mera paródia de si mesmo) vem fazendo em quase 20 anos.

(São Carlos, 10 de novembro de 2021)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 10/07/2016
Reeditado em 10/11/2021
Código do texto: T5693530
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