De Gol a Gol
Falar de futebol, todo mundo fala. E entende, a ponto de, por vezes, ter que tirar crianças da sala. Ponha-se lá, por exemplo, sozinho com com Renata Fan. Vão se engalfinhar, buscando o jogo empatar. Tal contudo não sucederá se a discussão for com o Marcos Barrica, cuja vivência e vidência com o esporte bretão é sempre didática e cordial ocasião.
Marcos foi goleiro de um punhado de times de Pitangui e arredores daí. E por mais de meio século sentiu-se o rei dos paus. Disputou posição com grandes nomes, entre os quais um dos maiorais na posição: Marcial, que foi do Galo, Mengo e da Seleção. Acha pouco? Tu tá é louco.
E desse futebolista, surgiram o historiador e o cronista. Seu livro recém-lançado em Pitangui, De Gol a Gol é uma enciclopédia de que todos nós conhecemos e até nos sentimos um pedacinho. Tudo juntado, bem documentado e narrado, o leitor se sente mais que agraciado, honrado.
Marcos, por tanto tempo senhor do arco, por sua obra é hoje um marco. E toca-se o barco. Em águas calmas, cristalinas, que vão também à agitação das procelas, ao lamaçal que chega à altura das canelas.
Não lhe li toda a obra, que adquiri, ao lançamento, com simpática e enfática dedicatória, há um par de semanas. Li-lhe tão somente dois capítulos e me concentro sobre eles aqui. Noutra oportunidade, falarei dos demais. Mas de toda forma, concito jovens de hoje e de antanho a buscarem a graça desse ganho.
O capítulo dedicado ao Brumado Futebol Clube, time do povoado têxtil a uma légua de Pitangui, foi minha inicial leitura. Lá nasci, até meus quase oito lá vivi e de mim o Brumado não sai fácil assim. Marcos também teve sua experiência esportiva lá. A crônica é fluida, correta e coerente, suportada por abundantes fotos, que fazem a gente reviver e retro-sonhar, se possível é isso imaginar. A imagem que guardo mais forte, sem contudo me lembrar de ter visto por lá jogar, é a de um João Aguiar, futebolista de fazer sonhar.
O segundo capítulo lido, bem mais pra frente, foi o da experiência de um empreendimento infanto-juvenil que anos depois, em Pitangui surgiu, sob o comando do Professor Santiago que já fez de quase tudo na vida. Esse empreendimento, embora de breve duração, chamado Galícia - inadvertidamente grafado Galáxias pelo nosso Barrica - foi intensa e ebuliente sensação. Teve até uma vitória memorável, justamente sobre o famoso time do Zé Emídio, o mais bem-sucedido grupamento esportivo da juventude de nossa cidade.
O cronista-locutor José Luís Peixoto, a quem credito colaboração - de costas - em meu gol inicial no hoje Estádio Iraci Severino, ao qual se seguiriam dois outros na marcha para os também mil gols - que fique por este instrumento sabendo que, tive também meu momento no citado Galícia.
Foi uma única oportunidade, mas que oportunidade: num jogo em Bom Despacho, que terminaria num 3 a 3, numa bola cruzada da ponta esquerda, livre, livre, frente ao goalkeeper saltei para o cabeceio. Ela resvalou apenas no meu topete e se desviou do alvo. Mal me dava conta eu que a dois metros de mim, na mesma linha da bola, encontrava-se o Cisão, mago das cabeçadas...
E dali pra frente, caíram minhas ações vertiginosamente, até que peguei a reserva d esforçado Raimundo Quildário no time do Seu João Albino, nos meados dos anos setenta. Time que treinou, treinou, e que nunca chegou a jogar nos quase dois anos que por lá passei.
A esta altura, ainda não sei se o cronista-escritor Marcos Barrica registra essa façanha em sua obra. Cumpre lê-la até o final. O futebol sempre surpreende. E como a gente a ele se rende. Volta, Messi.