RAIMUNDO DOS SANTOS LIMA: ANÁLISE DE VIDAS SECAS

INTRODUÇÃO

O trabalho a seguir analisará a obra “vidas secas” de Graciliano Ramos, composta de XIII capítulos, retrata a vida sofrida do sertanejo que depende sempre dos períodos chuvosos para continuarem suas vidas, e apesar do sofrimento o nordestino não perde a fé e a esperança de dias melhores.

A análise será realizada a partir de conceitos dos escritores Cândida Vilares Gancho e Afonso Romano Sant`Ana, serão analisados, portanto, os elementos da narrativa tais como: Enredo que se subdivide em exposição, complicação, clímax e desfecho. Personagens e as classificações quanto protagonistas, secundários, planos e redondos.

Será analisado ainda, o tempo para averiguação se se trata de cronológico ou psicológico, espaço, ambiente, narrador, tema assunto e mensagem, para a realização desta análise fez-se necessário a leitura completa da obra “vidas secas” e espera-se atingir os objetivos propostos que são a compreensão da obra, suas características e a mensagem política que pode ser percebida através de sua leitura e análise.

Análise Segundo a concepção de Gancho.

1. ENREDO.

Inicialmente, percebe-se que a narrativa possui uma lógica, faz o leitor acreditar no que está lendo, pois, quando se lê a história, quem teve a oportunidade de vivenciar informações precisas sobre o nordeste no período de seca, sente-se como se estivesse lá, tudo retoma ao lugar seco, acabado, desprovido de vida, o sofrimento do sertanejo como pode ser percebido na (p.15), “os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

A história possui mais de um conflito, logo no início percebe-se o primeiro deles, quando Fabiano revoltado com a vida desgraçada que leva revolta-se a ponto de pensar em abandonar o filho mais velho no caminho, deixando-o para alimentar os urubus (p.18), ”o pirralho não se mexeu e Fabiano desejou mata-lo. Tinha o coração groso, queria responsabilizar alguém por sua desgraça (...) esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar”. Além desse conflito outro que chama a atenção ocorre no capítulo em que Fabiano se envolve em uma confusão e acaba preso da delegacia, cujo fato o narrador assim o descreveu:

O que amolecia o corpo era a lembrança da mulher e dos filhos. Sem aqueles cambões pesados, não envergava o espinhaço não, sairia dali como uma onça e faria uma asneira. Carregaria a espingarda e daria um tiro de pé de pau no soldado amarelo. Não. O soldado amarelo era um infeliz que nem merecia um tabefe com as costas da mão. Mataria os donos dele. Entraria num bando de cangaceiros e faria estrago nos homens que dirigiam o soldado amarelo (p.36).

Percebe-se no fragmento acima que Fabiano vivia nesse momento um grande conflito, revoltado com a humilhação que passara sem nenhum motivo plausível, com os empurrões, cascudos, surrado com facões, jogado em uma prisão inóspita, desejava vingança, queria uma retratação, mas seus desejos paravam na lembrança da família, da esposa, dos filhos e até da cachorrinha.

1.1 Exposição:

Aqui o narrador situa o leitor que a história trata de uma família de retirante que deixa a terra na qual nascera em decorrência da fome causada pela seca, a falta de emprego e renda e sai sem direção em busca de uma nova oportunidade, isto pode ser percebido, pois o narrador assim o descreve:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes (...) arrastavam-se para lá Sinhá Vitória, o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, a aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás (p.15)

Percebe-se no trecho acima que o narrador faz uma apresentação do local, que pelas características demonstram ser terras do sertão, descreve a pobreza dos retirantes, que levam todos os bens que possuem nos ombros, descreve ou apresenta os principais personagens, os membros da família do retirante, nem mesmo a cachorra Baleia passou despercebida ao narrador.

1.2 Compilação:

Como já foi mencionado anteriormente esta narrativa possui mais de um conflito, em cada capítulo pode-se perceber um, no primeiro foi quando Fabiano pensou em matar o próprio filho, no segundo quando Fabiano se revolta com a educação dos filhos e pensa em tirar satisfação com sinhá Vitória, no terceiro quando Fabiano pensa em entrar para o cangaço e se vingar dos homens que o humilharam no quarto quando Sinhá Vitória se revolta com a situação em que vive sem ter uma cama decente para dormir.

No sétimo capítulo pode-se perceber um conflito bem relevante relacionado a própria saga do nordestino, quando a seca é demorada e destrói a vida, os sonhos, arrasa tudo, porém naquele momento eles estavam preocupados com a chuva, a chuva por quem eles tanto esperavam agora os ameaçava, imagine se as águas avançassem e invadisse a fazenda, a casa, derrubasse o curral, agora era a chuva que os ameaçava.

1.3 Clímax:

Esta análise está sendo realiza\da de acordo com os conceitos de Gancho, portando ressalta-se que o clímax é o momento de maior tenção existente na história, em que o leitor é tomado por uma curiosidade indescritível, é o momento em que não é possível interromper a leitura, pois deseja-se descobrir o que vai acontecer. Sob essa ótica o momento de maior tensão foi quando Fabiano percebeu que a seca estava retornando e que ele e sua família teriam que fugir novamente, reviver todo o sofrimento de outrora. O narrador descreveu esse momento assim:

Antes de olhar o céu, já sabia que ele estava negro num lado, cor de sangue no outro, e ia tornar-se profundamente azul. Estremeceu como se descobrisse uma coisa muito ruim. Desde o aparecimento das arribações viva desassossegado. Trabalhava demais para não perder o sono. Mas no meio do serviço um arrepio corria-lhe no espinhaço, à noite acordava agoniado e encolhia-se num canto da cama (p.119).

1.4 Desfecho:

A história da família do vaqueiro termina tal qual começou, na mesma incerteza, na mesma longa caminhada sem destino, sem saber aonde queriam chegar, sem alimento, sem forças para caminhar, a espera de um novo recomeço (p.115) “retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e ficariam presos a ela”. Nota-se que a história tem um final triste, uma vez que a família termina sem casa, sem emprego e renda, sem alimentos e cheia de incertezas.

2. PERSONAGENS:

Protagonista: O protagonista dessa história é Fabiano, um anti-herói, pois é desajeitado, ignorante, desprovido de conhecimento e sabedoria e não consegue se comunicar com as pessoas e sempre se mete em confusão por falta da capacidade de comunicação. Quanto a caracterização o personagem Fabiano é tipo, pois é reconhecido por ser pobre, sem personalidade, desprovido de beleza e inteligência.

Antagonista: o personagem que pode ser caracterizado como antagonista seria o patrão de Fabiano, pois mesmo não sendo presente em todos os momentos da história, ele é o personagem que sempre impede o sucesso de Fabiano, exigindo sempre que o vaqueira faça o melhor e nunca reconhecendo seu trabalho ou lhe fazendo um elogio, e o engana comprando seus animais por preço inferiores ao que realmente valia, o patrão também é um personagem “tipo”, pois sabe-se apenas que é um homem de negócios, rico, ambicioso e que mora na cidade.

Secundários: Baseado na teoria de Gancho pode-se afirmar que os personagens secundários são: Sinhá Vitória, os dois filhos do casal, sinhá Terta, Baleia, Soldado Amarelo, Inácio da bodega, cobrador da prefeitura, o cabo, Sinhá Rita Louceira e o sábio Tomas da Bolandeira.

Tempo: seguindo as orientações de Gancho, percebe-se que esta narrativa está escrita em tempo cronológico, de acordo com os marcadores de tempo vistos ao longo da história. No primeiro capítulo (p.15) encontra-se “os infelizes tinham caminhado o dia inteiro” na sequencia nota-se “fazia horas que procuravam uma sombra (...) ainda na véspera eram seis viventes”. Outro marcador de tempo bem visível diz respeito às estações do ano, havia um período de secas insuportável e em seguida um período chuvoso que permitiu a sobrevivência dos sertanejos e por fim outra vez o período de secas que os faz fugirem novamente.

Espaço: Em relação ao espaço percebe-se que se trata de grande área do sertão nordestino, pois inicialmente o narrador afirma (p.15) “na planície avermelhada”, na sequencia ele diz “haviam repousado bastante na areia do rio seco”. Em outro trecho percebe-se como espaço a fazenda e a cidade na qual Feliciano foi preso pelo soldado amarelo.

Ambiente: Fabiano e sua família viviam em espaço predominante de pobreza, exploração da mão de obra, tanto pelo patrão que lhe roubava quanto pelo estado que lhe cobrava impostos e lhe impunha regras que ele não conseguia compreender, era desprovido de inteligência, sabedoria e capacidade de comunicação.

Narrador: esta história é narrada em sua totalidade na terceira pessoa, portanto o narrador não faz parte da história, apenas relata e faz comentários sobre alguns personagens, como no capítulo cinco (p.52) em que ele diz “Fabiano era terrível”. Neste caso percebe-se ainda que o narrador é onisciente e onipresente.

Tema: seca do nordeste.

Assunto: Fome, miséria, falta de emprego e renda, ineficiência do poder público.

Mensagem: se os poderes constituídos tomassem a decisão política de resolver os problemas do Nordeste relacionados a falta de água, emprego e renda, educação, saúde e habitação, com investimentos coerentes certamente melhoraria a qualidade de vida dessa população.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 1997.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas.

SANT`ANA. Afonso Romano. Análise estrutural de romances brasileiros, São Paulo: Ática, 1997.

RAIMUNDO DOS SANTOS LIMA
Enviado por RAIMUNDO DOS SANTOS LIMA em 17/06/2016
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