ANÁLISE LITERÁRIA - OPHÍDIA - POR RENATO DE PASSOS BARROS

Não é por empolgação. Mas por estranhamento, espanto e surpresa que essa Estética da Recepção elege agora OPHÍDIA como o soneto-estandarte do Clube dos Anjos. Sua poderosa linguagem literária torna a palavra-espada mortal na primeira estocada, imagine então no esquartejamento em 14 fatias. A poetisa Edna Frigato já nasceu Ronim - uma samurai sem mestre ou com mestre póstumo. Mas sei que o poeta do Átomo e do Cosmo também assinaria embaixo dessa Obra de Arte. Nesse sentido, tal Receptor das Literaturas de Rupturas já experimentou da afiada lâmina frigatiana em outras incursões poética não menos reveladoras.

OPHÍDIA mantém o eixo sintagmático definidor do objeto em pauta alicerçado por um conjunto de paradigmas majoritariamente composto por adjetivos tão venenosos quanto reais. E tais metáforas jamais serão rebaixadas a hipérboles passionais porque há perfeita simetria entre significante e significado nesse exuberante universo conotativo. No entanto, o que mais desperta a atenção do leitor não é o silêncio dos cortes imagéticos, mas o seu ordenamento concatenado em fases do enredo:

Apresentação - é a fase em que a narrativa detalha características do objeto examinado. Ela tangencia as duas primeiras estrofes. "(...) monstruoso feto anti-humano". E destinado a desgraçar sua prole: "(...) vergonha às futuras gerações de nossa raça". Sua presença pressupõe mazelas: "És mensageira-mor do infortúnio mau augúrio". E finalmente, o monstruoso retrato-falado é finalizado nos dois últimos versos do segundo quarteto: "A peçonha maligna de todas as peçonhas / Como um legado negro recebido do espúrio". A segunda parte, nesse caso específico, aglutina segunda e terceira fases:

Complicação/Clímax - são as fases da narrativa em que a relação tensa entre objeto examinado e examinador atinge um ponto nevrálgico. O ápice de um conflito inconciliável carimbado de maneira clara e evidente pelo sintagma caracterizador: "bastarda!"

O tom exclamativo sugere ao declamador do soneto um grito inumano para acordar o improvável leitor que, nessa oratória poética, esteja no décimo terceiro sono. É finalizado então o clímax quando o eu-lírico denuncia que o diabo é o mestre de sua antagonista pronta pra dar o bote: "Vive em estado incessante de alerta, (...)".Já o Desfecho - última fase do enredo- descreve o caótico destino do arauto luciferiano: "Giras em torno de si mesma: total demência / Desesperada tenta morder o próprio rabo!". O epílogo dessa camuflada narrativa ensina que o ódio destilado contra o odiado se volta contra o próprio odiante. Mesmo sendo uma narrativa em terceira pessoa - teoricamente isenta de emoções - o texto transbordou por todo o eixo sintagmático sua marca ideológica assumidamente contrária ao letal ser rastejante. Mais uma vez, a poetisa Edna Frigato, serpenteando sua palavra-espada e na velocidade imposta por movimentos-ninja, retalhou o objeto examinado num curto baile de quatorze versos cronometrados.

OPHÍDIA é um soneto bárbaro! Não só na força ofensiva de sua linguagem, mas também na métrica (todos os versos possuem treze sílabas poéticas). E esse poema sim, ratifica a Recepção, é o soneto-estandarte do legado poético de Augusto dos Anjos. Edna Frigato então é uma espécie de curadora da escatológica linguagem maldita de nosso pré-modernista maior. Esse estilo poético não cansa de fascinar seus leitores/escritores. Essa intensa interação literária (as obras e os comentários dos Recantistas) revela uma permanente troca de conhecimento humano. Tal ganho empurra prestígio, carisma e vaidades para junto dos seres rastejantes e invejosos. Portanto, os valiosos comentários de poetas e escritores são como as esplendorosas cachoeiras que nos refrescam e formam no alto um belíssimo arco-íris literário. Parabéns, poetisa! E também dou meu Parabéns a todos os poetas e apaixonados por Literatura do Recanto das Letras.

(Renato Passos de Barros)

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Sabe Renato? Bárbaro não é meu soneto, é essa paixão literária que te move; o tato poético; tua capacidade de enxergar minúcias; é tua sensibilidade olfativa que capta o olor-poema das rimas, cadência, metáforas, e tantos outros recursos aparentemente inodoros usados como recurso poético. Bárbaro é a tua ousadia de mergulhar nos abissais da linguagem poética e colher pérolas em cada verso. Bárbaro é a lâmina afiada do teu bisturi semântico. Bárbaro mesmo, é você Renato, com toda a bagagem literária que te permite uma análise tão detalhada.

Leio, releio, e cada vez mais me encanto. E quanto mais me encanto mais me somem as palavras. Como se elas próprias soubessem de sua insignificância perante a magnitude do teu texto, do teu conhecimento, da tua perspicácia...

Mais uma vez você surpreende ao usar os elementos da narrativa pra analisar "OPHÍDIA".

Com uma precisão assustadora você "desconstrói" todos os elementos estruturais do soneto, desvendando assim, a intenção do "eu lírico" velada propositalmente, ou não pelo poeta.

Sinto-me privilegiada em ter seu olhar de exogene exigente sobre meus versos, resultando nesse magistral trabalho literário.

Na falta da palavra que expresse meu agradecimento e admiração por seu trabalho, mergulho a única que chega a mim como consolo, nas águas perfumadas do lirismo que me habita e, deixo que o vento se encarregue de levar até você o meu "Muito Obrigada" perfumado.

(Edna Frigato)

Renato Passos de Barros
Enviado por Edna Frigato em 01/06/2016
Reeditado em 05/10/2016
Código do texto: T5654098
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