A Garganta do Inferno
O título acima está relacionado como conto na bibliografia de Bernardo Guimarães, mineiro de Ouro Preto, celebrado autor de A Escrava Isaura. Da Escrava nada é mais necessário saber - além do inverossímel - que, adaptada à televisão pela Rede Globo, fez sucesso em mais de uma centena e meia de países.
De Guimarães tenho a lembrança de ter lido o romance O Ermitão do Muquém, há décadas, e de haver gostado moderamente da obra. Mas o que me despertou agora a atenção sobre esse respeitado autor, patrono da cadeira nr 5 de nossa Academia Brasileira de Letras, foi o que ouvi, relato breve, no Bar Vila Nova Futebol Clube, do povoado de Lavras Novas, sito a uma vintena de quilômetos da sede municipal de Ouro Preto.
Lavras tem uns 800 e tantos habitantes, umas trinta pousadas, uma rua, uma dúzia de vielas e, além de casario modesto, uma igreja tanto antiga quanto resistente. Muitas histórias do tempo da escravidão. E uma história de amor peculiar - segundo dizem - narrada na pena de Guimarães.
O miolo da história é a paixão proibida de Lina por um filho do Guarda-Mor.
Lina foge do lar para consumar sua paixão. A união não se firma, contudo. E de regresso à casa materna, Lina se ensimesma, se desespera e, num buraco colossal, dá cabo à sua existência. Transida de dor, a mãe segue o destino da filha. Em meio à comoção, a cúpula da igreja diocesana envia um emissário para exorcizar o local dos sinistros. Sua decisão, cumprida à risca, é mandar lacrar com uma pedra circular o infame poço. O moço encarregado do lacre, por razões que pairam ainda ignoradas, de ferramenta à mão, talha um tosco S na laje.
Até hoje se especula sobre o significado da letra. Segredo, aventam alguns...
Vai lá, leitor, se queres arriscar um palpite. A lápide está no adro da igrejinha, a uns 30 metros de sua porta frontal.