O ápice
Uma das maiores e mais belas funções da Arte é a de abalar as estruturas da sociedade; afinal, é importante temperar a vida com alguma loucura a fim de que não nos tornemos demasiado sisudos. E mesmo que por isto sejam os artistas chamados de loucos e vaiados pelo vulgo, uma hora ou outra seu reconhecimento póstumo haverá de chegar.
Não preciso estender-me muito em minha demonstração; prefiro partir direto ao exemplo para provar meu ponto. Contemplemos a famigerada banda Vzyadoq Moe e seu álbum “O ápice”, de 1988 – ambos parecendo terem voltado no tempo uns 40 anos antes.
Desde seu nome, que foi escolhido num sorteio de letras randômicas, ao álbum em si, que meramente contém como arte de capa uma espiral convidando o ouvinte a um encontro com a loucura, a sensação é de que cada um de seus integrantes demonstra o mais puro desdém ante as normas convencionais da música – o que é absolutamente verdade. Os dois pontos mais fascinantes do Vzyadoq Moe são as letras cantadas no frenesi de um stream of consciousness e a bateria feita de latas de tinta e sucata; que mais poderia eu dizer?
Em consideração, terem chamado seu único álbum de “O ápice” foi uma escolha ironicamente apropriada, pois atingiram o ápice de sua maestria artística e explodiram feito uma supernova, deixando em meio à Terra as espantosas sementes de sua obra. Que germinem, fornecendo-nos mais gênios de intelectos não aprisionados por grilhões de lugar-comum!
(São Carlos, 30 de novembro de 2021)