dois contos russos
Grandes leituras tiveram meus olhos e neurônios escassos, refiro-me à dois contos de Gógol, “vyi” e “o capote”.
O primeiro é um roteiro gótico de suspense e horror, já algum cineasta deve ter feito alguma cena baseada no conto, tenho certeza. Confesso-vos que tive medo, logo eu, que noutros tempos divertia-me assistindo filmes de terror, o que faz com que não me terrifique facilmente.
Mas, “vyi”, é uma figura de pesadelos, faz parte do imaginário popular ucraniano, um monstro coberto de pesadas raízes escuras, acordado de seu mundo subterrâneo, por uma bruxa, não uma bruxa qualquer de cinema infantil, mas uma bela mulher que anda às voltas com forças ocultas, e que com seu uivado atraía os cossacos russos a completa perdição, estes, eram logo dominados por um feitiço, do tipo, a bruxa passeava montada nas costas de um desafortunado, vítima de seu encanto! E os caras iam de boa, tomados por completo, submetidos ao seu domínio.
No entanto, ela morre e seu pai obriga ao filósofo Khomá a rezar durante 3 noites pela alma da finada bruxa, diante de sua esquife aberta numa igreja bizantina assustadoramente profanada.
O que aconteceu lá meus caros amigos, nestas três noites, ah, não queiram saber! Os horrores mais profundos a que um homem pode suportar, sugiro que leiam!
Já o capote também tem aspectos fantásticos, mas vai muito além, porque o desgraçado protagonista é um resiliente, um funcionário público russo da mais baixa casta, lotado numa repartição burocrata qualquer, o que lhe faz feliz é o trabalho de copista de documentos oficiais.
Ser funcionário público do nível do homenzinho com uma pequena calva ruiva bem penteada, significava viver numa semi miséria; só o que lhe acalenta no gélido território russo é seu vetusto capote, desbotado, andrajoso, ele à duríssimas penas pode comprar um novo, mas, infortúnios futuros lhe sobrevieram...
O infeliz sofre de um sofrimento que só os santos suportam, carrega sua cruz de maneira corajosa, vá lá, que era um homem de nenhum dote intelectual, mas a santidade e a graça divina não são para aqueles que têm-se na conta de sábios portentosos.
Ele morre! Melancolicamente morto, mas sua história não acabaria ainda, pois, ele pode se vingar! Ressurge do mundo dos mortos, como um fantasma para roubar os capotes dos indiferentes peterburguenses...
Uma bizarra história, belissimamente construída pelo mestre Gógol, este também, uma personagem real, envolta em mistérios, mas com uma escrita arrebatadora.