Imerso em Augusto dos Anjos
A partir da leitura de “Eterna mágoa” - poesia de Augusto dos Anjos - a imersão do leitor, o qual se permite perambular pelo trajeto dos versos, arranha-o de modo feroz. O leitor se vê diante dum cruel labirinto lírico, que se inicia assim: “O homem por sobre quem caiu a praga...”, rasteja-se inquieto e vive a vegetar no desassossego. Afunda-se na sua própria escuridão, e também dentro da fumaça absurdamente negra além de si, que o impede de si enxergar. Esse bípede não sabe como caminhar, ou talvez entenda que suas passadas não o levarão ao cume. E assim a dor o dilacera, o faz gemer sobre camas de fogo que o deixam em carne viva. O cansaço o vence depois de muito se lamuriar. E após a fuga de sua realidade, entranha-se no universo onírico, e o seu sofrer torna-se mais grotesco. O homem grita, geme, implora por socorro, até que seus ardidos olhos se deparam com o silêncio, e o peito por alguns instantes se aquieta como se estivesse em grande calmaria. Mas logo flui um piscar de olhos e uma leve brisa balança sua mente, e assim outra vez a forjada paz se esvai. E, perdido no deserto de si: “Não crê em nada, pois, nada há que traga consolo á Mágoa, a que só ele assiste”. Porém o homem se sente vivo, e sua força sanguínea o empurra adiante - mesmo descrente, insiste caminhar. Os pés do homem doem menos que sua mente, a qual vagueia em todas as direções. Neste tremendo desespero as lágrimas caem em enxurradas como se fosse o banho da salvação. Seus olhos internos sabem que por mais que tentem não conseguirão visualizar o finito, pois já compreendeu que o infinito é o seu pesar. E como um desbravador, ganancioso pela descoberta de si, envereda-se por florestas em noites densas, e já não sabe dizer se continua vivo ou morto, o que entende é que se já não mais figura no cerne da viva vida o seu intimo continua em corrosiva desolação. Daí surge os últimos versos, que dizem: "E quando esse homem se transforma em verme/ É essa mágoa que o acompanha ainda”.
Augusto dos Anjos em “Eterna mágoa” representa o conflituoso homem na nebulosa escuridão da vida.
Autor: Augusto dos Anjos
Poesia: Eterna mágoa
Analise: Valdon Nez