Não concordar com alguma das atuais posições políticas do escritor Marcelo Rubens Paiva não foi pretexto válido para me fazer negar o valor do seu último livro. “Ainda estou aqui” é uma obra que segue o caminho autobiográfico, muito difundido em nossa presente literatura, mas se difere da vulgaridade por abordar a trajetória de uma família atacada pela ditadura e por dissecar o assassinato do pai, o engenheiro Rubens Paiva, destroçado por torturadores. Na mesma esteira, o autor narra a trajetória da mãe, que se ergue da tragédia enfrentando relevantes questões sociais e o próprio regime militar. Por fim, acompanhamos Eunice Paiva mergulhando no Mal de Alzheimer e enfrentando mais uma batalha: a ditadura da própria ausência.
A sensibilidade à flor da pele é habita todas as paginas.
Sob o aspecto histórico, o livro de Marcelo Rubens Paiva é uma leitura necessária num presente onde observamos a ignorância erguer cartazes pedindo a volta da intervenção militar. Foi inevitável me recordar de flashes que já narrei num dos meus artigos publicados pelo Observatório da Imprensa e que leva o título de “A liberdade que oprime”. Nos anos 70, dias de infância, eu e meus amigos, com a anuência de algum oficial, jogávamos bola no campo de futebol de salão do Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, o antigo DOI-CODI.
Era na sede do DOI na Tijuca, Rio de Janeiro, que nos divertíamos, riamos e comemorávamos gols. Tudo isso sem imaginar os horrores, violências e suplícios que nos cercavam. A alienação era a nossa trincheira, era o que nos preservava a felicidade. Em crianças que viviam num período de exceção, a desinformação pode ser vista como um mal compreensível. Em adultos que vivem tempos de democracia, a estupidez é uma opção imperdoável.
Sob o aspecto histórico, o livro de Marcelo Rubens Paiva é uma leitura necessária num presente onde observamos a ignorância erguer cartazes pedindo a volta da intervenção militar. Foi inevitável me recordar de flashes que já narrei num dos meus artigos publicados pelo Observatório da Imprensa e que leva o título de “A liberdade que oprime”. Nos anos 70, dias de infância, eu e meus amigos, com a anuência de algum oficial, jogávamos bola no campo de futebol de salão do Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, o antigo DOI-CODI.
Era na sede do DOI na Tijuca, Rio de Janeiro, que nos divertíamos, riamos e comemorávamos gols. Tudo isso sem imaginar os horrores, violências e suplícios que nos cercavam. A alienação era a nossa trincheira, era o que nos preservava a felicidade. Em crianças que viviam num período de exceção, a desinformação pode ser vista como um mal compreensível. Em adultos que vivem tempos de democracia, a estupidez é uma opção imperdoável.