La leyenda del tiempo- Garcia Lorca.

Essa "coisa" do tempo mexe comigo, pois sei que é do homem e não de Deus, pois para o criador o tempo tem uma diferente medida, que não conseguimos dimensionar.

Escolhi um poema de Federico Garcia Lorca, poeta maior da língua espanhola, musicado décadas depois por Ricardo Pachón, um andaluz, e interpretado pelo meu conterrâneo ," Camarón de La Isla", cujo túmulo visitei na ilha de "San Fernando", o meu berço, o maior "cantaó" del canto"hondo"( fundo),como nós dizemos, para chamar "El flamenco", e que mais uma vez o querido cantor Fagner, fez dueto , coroando esta linda música .

" El sueño va sobre el tiempo

Flotando como un velero

Nádie puede abrir semillas

En el corazón del sueño

El sueño va sobre el tiempo

Hundido hasta los cabellos

Ayer y mañana comen

Oscuras flores de duelo

Sobre la misma columna

Abrazados sueño y tiempo

Cruza el gemío del niño

La lengua rota del viejo

Y si el sueño tinge muros

En la llanura del tiempo

El tiempo le hace creer

Que nace en aquel momento "

O sonho navega como um veleiro, porque o tempo singra os mares, veloz, e um segue em função do outro, como parte de um todo.

"Hundido hasta los cabellos"; o sonho vai sobre o tempo, totalmente afundado , entrelaçado, fazendo parte do mesmo percurso.

"Nádie puede abrir semillas, en el corazón del tiempo"; ninguém pode fazer brotar as sementes no coração do tempo, e esta frase para mim é a mais rica do poema, pois ela tem uma profundidade que merece ser analisada, já que somos limitados, e jogar sementes no coração do tempo, e esperar os seus frutos é uma tarefa tola, sem qualquer valor, e sem sentido, porque o tempo é o seu próprio dono e senhor, e não temos poder sobre ele, restando nos apenas "sonhar", como diz a canção.

"Ayer y mañana comen oscuras flores de duelo" ; esta frase é tão "Lorca"..., o poeta usa muito esta expressão ,"flores de duelo", que são as flores da despedida, da dor intensa , a derradeira, então quando nos diz que o ontem e o amanhã comem as flores da despedida, podemos entender que está consumado, nada nos resta, senão a própria espera.

"Sobre la misma columna, abrazados sueño y tiempo"; refere-se aos pilares, onde o tempo e o sonho se encontram, e que nos faz sentir e imaginar que talvez consigamos estabelecer pactos entre os sonhos e a realidade.

" Cruza el gemío del niño , la lengua rota del viejo" ; é preciso entender bem a língua espanhola, e ver que aqui este "viejo" se refere ao último som que pronunciamos enquanto vivos, e el "gemío" ( gemido) da criança é o primeiro som, certamente o choro do nascimento. Então o poeta aproxima o princípio do fim , porque está falando do tempo, que é o seu tema.

"Y si el sueño tinge muros en la llanura del tiempo, el tiempo nos hace creer, que nace en aquel momento"; Esta frase é a mais complexa de todas, pois Lorca, nos diz que se fizermos muros na planície do tempo, teremos a falsa impressão de que renasceremos, apenas uma ilusão, pois o tempo não estabelece medidas.

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"Camarón de la Isla ", foi o maior cantor de flamenco já conhecido, um cigano andaluz, de "San Fernando", a cidade dos meus pais, que conheço como a palma da minha mão, e que recentemente visitei, fica a 12 km da minha cidade natal ,que é " Cádiz".

Um túmulo muito bonito,que tem a sua estátua ,sentado e tocando "la guitarra", como se estivesse eternamente num palco. A palavra "guitarra" vem de "guita", que é corda em espanhol, e com o sufixo "arra", fica; instrumento de corda .

Os espanhóis não falam violão, embora conheçam a palavra, e sabem que é da língua portuguesa.

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Como sempre, difundindo as minhas raízes, pois este é um dos meus trabalhos preferidos, e aqui deixo meu abraço aos queridos amigos que o "Recanto " me deu nestes últimos tempos, afinal " El sueño vá sobre el tiempo", para todos.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 13/09/2015
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