O melhor e o pior do rock do Curdistão/Bem aéreo
Pela terceira vez sou levado a discorrer sobre meu queridíssimo amigo Marcos Andrada e seu singularíssimo trabalho – obrigação esta das mais prazenteiras, e que espero poder continuar repetindo sempre que possível.
Depois de escrever a respeito de seu trabalho mais conhecido com sua banda mais conhecida, e até tentar do melhor modo que pude descrevê-lo como pessoa tendo em vista minhas próprias impressões e deduções, influenciadas por seu excelente documentário “Incógnito”, sinto que não estaria sendo honesto para com meus leitores se não dedicasse algumas palavras a seus trabalhos pós-Vultos, que como já mencionei, são a inventiva compilação “O melhor e o pior do rock do Curdistão” e “Bem aéreo”, com a banda Sereialarm. Haverei de matar dois coelhos com uma cajadada só e dedicar um único ensaio aos dois trabalhos, já que possuem um certo elo a ligá-los.
A começar por “Rock do Curdistão”; a princípio, quem se deparasse com sua capa simples e descompromissada, representando uma cidade no deserto com figuras humanas translúcidas ao fundo, não se sentiria motivado a dar-lhe uma chance e provavelmente o acharia algum CD pirateado – para a sua enorme decepção, pois em verdade se trata de um disco interessantíssimo e, salvo engano, sem precedentes na história da música brasileira.
Este álbum trata-se de uma coletânea de 15 faixas, todas elas de bandas fictícias dos mais diferentes estilos e inspirações, criadas por meu amigo. E quando digo “diferentes” não é uma mera e fria figura de linguagem – todas as bandas foram tão bem imaginadas que nem ao menos parecem ter sido idealizadas pela mesma pessoa. As faixas de sonoridade mais agressiva fluem e complementam as mais suaves maravilhosamente, criando agradáveis contrastes; é como se cada banda tivesse uma antítese, com uma servindo de face a outra numa medalha. E apesar de tão diferentes, cada uma tem um Marcos de fundo.
Uma das bandas de “Rock do Curdistão”, o Sereialarm, veio a obter seu próprio álbum, “Bem aéreo”, em 2014 – o que foi uma escolha acertada (por mais que pergunte-me como seria se tal ou tal banda da coletânea tivesse seu lançamento, por sua vez), já que é uma obra feita para curar almas. As melodias são lindas, as letras cantam tudo aquilo que a Natureza tem de bom e belo a oferecer, e escutá-lo do início ao fim é uma experiência transcendental, capaz de fazer qualquer um esquecer-se dos males do mundo e ser transportado a um lindo lugar de sonhos onde os encantos da Natureza se deixam ver em todo o seu esplendor.
A essa altura do campeonato estou não-apologeticamente repetindo-me, mas exorto a todos aqueles que lerem este presente ensaio (e aos outros que escrevi a respeito de meu amigo) a prestigiar seu trabalho – escapar um pouco desta fria realidade que nos cerca ao Curdistão, místico paraíso do rock, é algo necessário – MAIS DO QUE necessário – nestes caóticos tempos modernos.
(São Carlos, 7 de dezembro de 2021)