Crítica do O diário idiota de Rafaela
Escrito pelo leitor J.D.Barbosa.
Breves considerações sobre o livro de “Gabi”!
O Diário Idiota de Rafaela!
A personagem:
Observei várias características comportamentais da menina Rafaela Drummond que me leva a dizer que ela é oriunda de uma família de classe média. Dotada de inteligência singular, hiperativa, “bipolar”, elitizada e intelectualizada, em constantes delírios, viciada em café, obsessão por contatos virtuais, uma postura tipicamente adolescente em seus escritos colocando o seu universo cultural de modo bem simplório e bem comum às adolescentes da sua idade. Exemplo destas derradeiras afirmações é o uso dos pronomes átonos “me e te” nos inícios das suas repetitivas frases.
A sua escrita denota as facetas da escritora que se confundem com a personagem. A escritora “Gabriella” se esforça para mostrar o seu melhor na produção literária, mas a personagem dita as suas regras e faz com que a escritora obedeça as suas ordens e daí se tornam IMPRESCINDÍVEIS as “incorreções gramaticais” contidas no livro. A mistura dos pronomes pessoais “eu e tu” e suas respectivas concordâncias são evidentes no livro todo. Isso é bom porque reforça a ideia de que o livro é fruto da criação da personagem que tem o “livre arbítrio” para se expressar sem o controle rigoroso da escritora. Rafaela não se daria ao luxo de produzir frases perfeitas para compor esta belíssima obra de arte que se tornaria muito elitizada e não retrataria a sua realidade nua e crua.
A personagem mostra o seu refinado gosto musical e quem conhece, minimamente, a escritora, perceberá que ela “puxa a brasa para a sua sardinha”, ou seja, faz com que a sua personagem goste do mesmo gênero musical dela: Kid Abelha, Ana Carolina, Paula Toller entre outros não citados no livro, mas que povoam o imaginário de ambas.
O desequilíbrio emocional da personagem fica evidente quando ela narra o abuso sexual sofrido na sua infância (página 44). E tem o fato da personagem não fazer referência à figura paterna em seu diário; isso me faz supor que ela pudesse sofrer em razão disso. E mesmo tendo a personagem Rafaela se mostrada com um Q.I acima da média para a sua idade, ela também demonstra a sua rebeldia que é bem própria desta fase de vida. E o diário por si só é algo muito evidente do comportamento feminino que gosta de registrar bons e maus momentos vividos; é raro encontrar jovenzinhas que não escrevem um diário.
E o que falar dos seus delírios? Imaginar-se mãe de Clara e esposa de Antônio? É algo surreal que ilustra a sua “sandice” que ao final é desacreditada por ela mesma. O que é ser louco? Como definir a loucura? E mais, o seu gosto pela filosofia e os autores por ela citados como Freud, Jung, Einstein, Descartes, enfim, isso mostra as influências culturais de uma jovem em formação. “Diário, como você explicaria isso? E meu pai Freud? O primo Jung? (página 68). E no “caput” da página seguinte ela descreve a sua solidão e carência afetiva.
E aqui uma digressão deste observador consoante ao que escreveu Rafaela em seu diário na página 79: “Tadinho, ter nascido na Paraíba rendia a ele apelidos incríveis.” (ao se referir ao personagem Luiz). Isso demonstra o lado “perverso e preconceituoso”, não necessariamente da personagem, mas a sua consciência de que os “paraibanos” são tidos como pessoas “inferiores” no meio social que ela vive. Em contrapartida, tem uma passagem em seu diário que ela se mostra solidária com uma senhora que também sofre o preconceito social por não ter as características físicas minimamente “desejáveis” num ser humano em razão de uma possível doença que lhe desfigurou o rosto. Rafaela é dualidade, é inconstância.
E lá na página 82 do seu diário ela fala dos aspectos negativos obtidos na convivência nefasta com a sua mãe. Em momento algum critica o pai; aliás, nem o menciona. O que deve ter sido pior em sua vida? A mãe devassa e profana ou o pai ausente? É algo pra ser analisado por psicólogos e não por este professor de línguas. Todavia, Rafaela é uma menina “mimada, folgada e vagaba”, pois afirma não ser prendada na cozinha. Ela parece achar bonito dizer: “Eu nunca fiz isso e hoje sei o valor que isso tem.” (ao se referir às atividades domésticas como recolher o lixo, encher o filtro de água, lavar o copo e arrumar a própria cama).
E por fim, eu até ia contestar uma afirmação desta maluca Rafaela, mas mudei de opinião. Ela afirma peremptoriamente à página 90 que: “Beleza põe mesa SIM”. E eu sempre me deixei levar pela argumentação de todos, mas não tinha visto isso com os olhos e sentimentos de Rafaela, pois é fato incontestável. Uma linda menina mulher tem em sua cama o homem que ela quiser. Portanto, a beleza dela pode sim lhe render uma bela e farta mesa ao homem rico que poderá “comprar” o amor de uma linda mulher ambiciosa e interesseira. Não é o caso da escritora; não me condene. Ou há semelhança entre criatura e criador? Espero que não!