"O Mal Estar na Civilização" - S. FREUD
Notoriamente, a influência de Freud no pensamento ocidental é inconteste e não para de ampliar seu alcance e abrangência, dialogando e influenciando as mais variadas áreas do saber, tais como a filosofia, as artes, a literatura, a teoria política, as neurociências e, mais precisamente, a medicina. Isto é, sua teoria tem de fato um alcance capaz de abranger e iluminar dilemas de outras áreas do conhecimento, ultrapassando assim o ambiente das observações clínicas, o que evidencia-se na popular frase corriqueiramente usada: “Só Freud explica!”. Nessa tentativa de explicar o inexplicável (os sentimentos) revela-se a relação entre o processo civilizatório e psicanálise e a ciência.
Assim, pode-se observar que desde “Totem e tabu” e “A interpretação dos sonhos” alguns aspectos comuns entre a vida mental do homem primitivo e a dos neuróticos, e também em outros textos de Freud, em que há indicações explícitas a “Totem e tabu”, como no caso de “Psicologia das massas e análise do eu” (1921), “O futuro de uma ilusão” (1927), “O mal-estar na cultura” (1930) e “Moisés e o monoteísmo” (1939) discute-se o processo civilizatório relacionando-o à psicanálise e às ciências .
Em “Além do princípio do prazer”, Freud avança no estudo dos movimentos psíquicos das pulsões, repetição do sintoma neurótico em sua articulação com o trauma e propõe uma instância psíquica a qual denomina de ‘supereu’, que possibilita uma aliança psíquica com a cultura, a civilização, os pactos sociais, as leis e as regras, mas também é responsável pela culpa, pelas frustrações tão presentes no homem pós-moderno e pelas exigências que o sujeito a si mesmo se impõe, muitas delas, inalcançáveis, o que o faz, necessariamente buscar novas soluções e respostas.
Em “O Mal Estar da Civilização”, observa o mal-estar que acompanha todo sujeito, que revela as angústias de homem-máquina destruído por sua perda de identidade ao se destituir de Deus e ter se despido das máscaras da fé, e as necessidades de um homem-deus sem um altar, o qual não pode ser inteiramente superado e que, indubitavelmente. Freud diz respeito à necessidade e ânsia humana por respostas, o “sentimento oceânico” que nos inunda e nos faz mergulhar em um desejo de respostas vem à tona.
É este sentimento que leva o homem pós-moderno, finalmente, a abrir os olhos e perceber seu real tamanho, diminuto, impotente (nem por isso, menos interessante), frente às infindas perguntas sem respostas. É um sentimento que nos faz desejar respostas para obter segurança, algum conforto, uma espécie de proteção, que o leve a pensar em coisas que o mostre uma direção, que mostre que uma das maiores necessidades da humanidade pós-moderna é a de “respostas” , respostas capazes de aplacar algumas as angústias, a desilusão, a primitiva necessidade de se saber além do saber, além da realidade e descobrir seu destino.
Em relação a humanização, a psicanálise e o humanismo pós-moderno buscam de fato esse reconhecimento do homem e, de acordo com o sentimento oceânico, é possível ao homem erguer novos altares, mergulhar nesse oceano proceloso, angustiante, cruel e cruciante que é a realidade e ressurgir, ressignificado, elegendo novos ídolos, novos altares que aplaquem a dor de sentir-se órfão e responsável por suas escolhas e seu inevitável fracasso.