“Metrópolis” e“O Dorminhoco”
E o paradigma cientifico na reconstrução do homem
Em “Metrópolis” ( Fritz Lang), ambienta-se uma gigantesca cidade que, de certa, forma representa o mundo todo, onde a elite vive no paraíso (superfície), e os pobres (as mãos, o corpo que alimenta a máquina) são escravos na cidade baixa (subterrânea). Mas a situação se inverte quando Freder (mediador, o coração), filho de Jon Fredersen (chefe da Elite, cérebro da cidade que a comanda da Torre de Babel) apaixona-se por Maria (líder espiritual e da revolução dos escravos). Apesar antigo, sua temática é muito atual e mostra que mesmo com a globalização e tecnologias, o mundo não mudou, o sistema regente ainda é o capitalismo, saímos da ditadura governamental para a do consumismo, o sistema opressor possui um foco grande na desigualdade social e, seus aspectos revelam-se na estrutura física da cidade, a Elite por cima com todos os benefícios possíveis e inimagináveis (Jardim dos Prazeres), e a classe pobre, oprimida no subterrâneo, marginalizada e absorvida como força motriz e massa de manobra para manter o luxo e o fluxo da cidade alta.
Em “O Dorminhoco” (Woody Allen), observa-se uma mistura bizarra das neuroses de Nova Iorque, com tiradas cômicas e lunáticas, a ausência de lógica e uma clara sátira ao governo opressor. Miles Monroe, congelado em 1973 é trazido de volta 200 anos depois por um grupo contrário ao poder vigente que tenta derrubar o governo opressor. Com as modificações ocorridas nestes dois séculos, este homem vai entrar em diversas confusões, vai ter sua memória apagada (é robotizado, desumanizado) e é incumbido de eliminar o nariz, pois o nariz sem o corpo não pode nada.
Nota-se o teor desumanizante nos aspectos sócio, políticos e econômicos nas pessoas eram automatizadas, robotizadas. Hoje ainda é assim, de forma sutil, a população vivendo de salário mínimo e para ‘mascarar a realidade’, implanta-se ações assistencialistas como pseudo bolsa “esmola” (segundo alguns críticos de tal medida social), muitos são jogados na fornalha do Moloch moderno (vícios, prostituição, miséria, ignorância) e a Hel (justiça) está morta, o Ser-máquina (fruto da modernidade), corrompido e desregrado, cheio de pecados. Assim como em Metrópolis, o coração é o intermediário entre o cérebro e as mãos, em “O Dorminhoco” o nariz é o que traria a libertação ao corpo. Coração (sentimentos) e nariz (sentidos) são metáforas da humanização perdida e necessária ao homem automatizado pela racionalidade exacerbada, idolatria à ciência, massificação do homem. O desafio é (re)constituir o homem integral, construir um paradigma científico atendo-se às dimensões rejeitadas pelo positivismo, no âmbito da razão, a esses domínios, em prol de uma visão do ser humano em sua totalidade no qual nos reconheçamos, assumindo o coração (sentimentos) e o nariz (sentidos) como parte dessa totalidade.