Sobre o curta-metragem "A ilha das flores".
FURTADO, J. A ilha das flores. [Filme-vídeo]. Produção de Jorge Furtado, direção de produção Nora Goulart. Porto Alegre, Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989. 1 cassete VHS / NTSC, 13 min. cor. som.
O documentário “Ilha das Flores”, produzido em 1989 por Jorge Furtado, retrata, através de um simples tomate, uma realidade que está ao nosso lado e às vezes algumas pessoas ignoram; levando-nos a pensar em assuntos como religião, capitalismo e desigualdade. Todo o curta-metragem é baseado na condição sub-humana em que vivem os moradores da região da Ilha das Flores e sua relação com o sistema capitalista.
Esta obra esclarece, desde o inicio, como o ser humano é, ao mesmo tempo, racional e irracional, no sentido de que da mesma forma que constrói pode destruir — como é o caso da bomba atômica. Além disso, a desigualdade mostrada e vivida por pessoas que só querem a sobrevivência é causada por aqueles que não ajudam o próximo, que não conseguem pensar em ninguém além delas mesmas, pessoas que preferem jogar no lixo o que poderia servir de alimentos a seus semelhantes. É essa sociedade que busca enriquecimento a qualquer custo, sem lembrar que existem pessoas que só querem sobreviver.
Entretanto, o desenvolvimento econômico de uma sociedade depende muito do sistema político e cultural em que essa sociedade está situada; sendo nossa tradição cultural fortemente influenciada pelo consumismo exagerado e pelo pensamento individualista, a relação entre o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento econômico de uma mesma sociedade pode, se não for planejado e equilibrado, levar essa sociedade a uma grande desigualdade social. Isso sugere a seguinte questão: qual é o limite desse progresso que o ser humano almeja? A obra traz à tona justamente esta questão da desigualdade como consequência de um “progressivo desenvolvimento”.
Esse lado ignorante da sociedade é, na maioria das vezes, deixado de lado pelos membros dessa mesma sociedade, esquecendo que, apesar de muitas diferenças, são seres humanos como eles. O paradigma atual não é válido se quisermos um paradigma justo, nem mesmo eficiente pode-se dizer que este sistema o seja. Segundo o filme, o que faz com que os moradores dos arredores do lixão da Ilha das Flores sejam desvalorizados é o fato de não terem dinheiro nem donos, no sentido de não se venderem para conseguir dinheiro.
Sem duvida, é uma obra muito bem feita, bem produzida e de grande valia para “qualquer pessoa que seja humana”; um filme que humaniza nossos conceitos sejam individuais ou sociais. A mensagem que esse belo filme procura passar é que não devemos trocar a nossa bondade, a nossa espiritualidade, a nossa liberdade por qualquer ideologia social nem nos acostumarmos com esta realidade atual. Sinceramente, essa obra me comoveu, espero e torço para que ela toque vocês também. Finalizo esse texto com uma famosa frase de Cecília Meireles, que são também as palavras finais do vídeo: “liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”.