"Balada de Otoño"- Joan Manuel Serrat.

"Balada de otoño" é uma linda canção do compositor catalão "Joan Manuel Serrat", tocada por ele ao piano, um dos instrumentos com que se apresenta no palco, o outro , o velho violão.

Gosto muito das suas canções, e é uma das minhas fontes de inspiração, e não nego, talvez por sermos espanhóis , talvez por sermos tão ibéricos no sentir do som, e da poesia.

"Serrat " traça um paralelo entre o outono estação e o seu próprio outono, o da personagem , que se encontra só após uma despedida, a reflexão da perda, e uma quase entrega e abandono, enquanto olha para fora e se vê na chuva e no cair das folhas.

" Llueve, detrás de los cristales, llueve y llueve

Sobre los chopos medio deshojados

sobre los pardos tejados

sobre los campos ,llueve

Pintaron de gris el cielo, y el suelo

Se fue abrigando con hojas

Se fue vistiendo de otoño

La tarde que se adormece,parece

un niño que el viento mece

con su balada de otoño

Una balada de otoño

un canto triste de melacolia

que nace al morir el dia

una balada de otoño

a veces como un murmullo

y a veces como un lamento

y a veces viento

Te podría contar

que esta quemándose mi ultimo leño en el hogar

que soy muy pobre hoy,

que por una sonrisa doy

todo lo que soy

Porque estoy solo

Y tengo miedo

Si tú fueras capaz

de ver los ojos tristes de una lámpara y hablar

con esa porcelana que descubri ayer

y que por un momento se ha vuelto mujer

Entonces olvidando

mi mañana y tu pasado

volverías a mi lado

Se va la tarde y me deja la queja

que mañana será vieja

de una balada de otoño "

Chover "detrás de lo cristales", se refere a visão da chuva pela janela, a chuva que observa, e os "chopos deshojados", são as folhas do choupo que cobrem e abrigam o chão , que se veste de outono.

" Un viento que el niño mece", é o vento que embala a criança,delicadamente ,assim como nos braços ou no berço, com a balada de outono.

Queima o último pedaço de lenha na lareira, e quando diz que "estoy muy pobre hoy", ( está muito pobre hoje) , se refere a uma tristeza , um vazio imenso, e que por um sorriso daria tudo o que tem, porque está só e com medo. Um temor compreensível, de abandono quando se ama, e se perde.

Há uma expressão poética muito forte quando diz; " Si tú fueras capaz de ver los ojos tristes de una lámpara y hablar con esa porcelada que descobri ayer, y que por un momento se ha vuelto mujer". Se dirige em pensamento a mulher amada; ( Se você fosse capaz de ler a minha luz, e compreender-me, e de sentir o que sinto agora, que estou pegando a xícara que achei ontem, e que por um momento me reflete você ...). E segue na mesma dimensão encerrando o pensamento,de forma magistral , usando dois tempos opostos; " entonces, olvidando mi mañana y tu pasado, volverías a mi lado ". (Esqueceria o meu amanhã e o teu passado, e voltarias ao meu lado). Há aqui o abrir mão de tudo, pois nada mais importa, só duas almas, duas vidas, sem cobranças, sem perdões, sem passado ou futuro , nada mais teria importância, porque o tempo e o amor não se desenham, se sentem.

"Se va la tarde y me deja la queja, que mañana será vieja" ,( A tarde se vai, e abandona a queixa, que amanhã não terá mais sentido algum ).

Este é um tema que me agrada muito, o da relação adulta e forte de duas pessoas, imperfeitas, intensas, e sobretudo humana, e nesta canção sinto este pulsar que o autor consegue passar tão bem. "Serrat" é um dos grandes compositores e cantores espanhóis, viaja pelo mundo levando a sua poesia, hoje já não tão jovem , ainda encanta com a sua voz grave , as palavras bem sentidas, um vocabulário bonito , e é impressionante como prende a atenção de uma platéia em silêncio, quando se apresenta e todos os olhares e ouvidos podem saborear a sua poesia entre os acordes que dedilha.

Costuma cantar quase sempre em espanhol, mas as vezes também canta em catalão ou em galego, que ele gosta muito , e que se parece mais ao português de Portugal, sempre muito bem, da mesma forma.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 26/04/2015
Reeditado em 26/04/2015
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