Como a cigarra.
Esta canção é de uma argentina chamada "María Elena Walsh", que já partiu, mas que deixou uma obra muito rica. Ela foi uma autora de livros infantis, musicista , e compositora. Muitas das suas canções foram gravadas por Léon Gieco e pela excelente Mercedes Sosa.
Gosto de saber de tudo o que nos cerca, por isso conheço muitas coisas de outros países da América Latina, sempre estou olhando por cima do muro, e com isto aprendo a valorizar este maravilhoso continente, e olhar os nossos vizinhos com maior carinho.
Escolhi "Como a cigarra" , porque apesar de parecer uma letra triste, não é, ao contrário, é uma letra de extremo otimismo e redenção, valorizando a aqueles que se levantam tantas vezes quantas forem necessário, e melhor ainda, com alegria e sem rancor, como uma cigarra.
" Tantas vezes me mataram
Tantas vezes eu morri
No entanto estou aqui, ressuscitando,
Graças dou a desgraça
E a mão com o punhal,
Porque me matou tão mal,
Que seguí cantando,
Cantando ao sol,
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual um sobrevivente
Que volta de uma guerra
Tantas vezes me apagaram
Tantas desaparecí
Ao meu próprio enterro fuí
Só e chorando
Fiz um nó do meu lenço
Mas me esquecí depois
Que não era a única vez
E seguí cantando,
Cantando ao sol,
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual um sobrevivente
Que volta de uma guerra
Tantas vezes te mataram
Tantas ressucitarás
Quantas noites passarás, desesperando,
E na hora do naufrágio,
E da escuridão,
Alguém te resgatará
Para ir cantando,
Cantando ao sol, como uma cigarra
Depois de um ano debaixo da terra,
Igual a um sobrevivente, que volta de uma guerra."
Na primeira parte da canção, o verbo está na primeira pessoa; " Quantas vezes me mataram...", e na última ,na segunda pessoa, se dirigindo ao próximo como a sí próprio, " Tantas vezes te mataram...", colocando propositalmente a todos no mesmo patamar, passando a confiança de quem extende a solidariedade, por sermos todos iguais na dor , e portanto também na esperança.
A música original está em espanhol, que aqui procurei traduzir da melhor maneira, para não perder o conteúdo, que é o principal. Certamente alguns do amigos do "Recanto" já a conheciam, pois já apareceu na televisão com alguns interpretes, inclusive o nosso querido Renato Teixeira.
Na segunda estrofe depois do estribilho, " Quantas vezes me apagaram ...", em espanhol é ;" Tantas veces me borraran ...", que ao pé da letra é como " deletar", " apagar com uma borracha", " riscar do mapa", alguma coisa que não deixe marcas , " sumir". E por aí vemos as quantas tentativas sofremos ou sentimos sofrer durante a trajetória, e nem assim conseguem, porque somos superiores.
" Fiz um nó do meu lenço...", mas depois se lembrou que não era a única vez, e seguiu cantando...Esta parte acho muito interessante, pois é a redenção se formando, a força de quem entende que a vida é assim, e escolhe seguir cantando, mais uma vez. Em espanhol, " Hacer un nudo del pañuelo", é um modal, também significa chorar muito, até que o lenço perca a forma nas mãos.
" Ao meu próprio enterro fuí, só e chorando", fala da solidão e de quantas vezes no sentimos sozinhos e perdidos, achando que tudo estava acabado, e nos lembramos que não era a única vez, e portanto haveriam outras, e optamos em seguir cantando. Não podemos aceitar o antagonismo, e negar a sí próprio, ninguém se sobrepõe indefinidamente, a superioridade absoluta não existe entre os homens, e por isso é melhor seguir cantando...