And all was silent…

Há certos momentos na vida em que nos deparamos com algo que nos espanta tanto que somos forçados a espalhá-lo para qualquer um que quiser ouvir após o choque inicial. Estou certo que meu leitor compreende o que quero dizer; quantas vezes algum de vocês não deve ter lido ou ouvido algo de que tanto gostaram, deixando-os estupefatos por dias a fio? Pois hoje mesmo isto aconteceu comigo, e necessitei parar tudo aquilo que estava fazendo para resenhar um álbum que trouxe-me muito divertimento – não necessariamente por ser bom, mas sim uma das piores coisas que já ouvi.

Eis que caiu-me em mãos sem que eu menos esperasse o álbum em questão: “And all was silent…”, de um músico austríaco alcunhado Pazuzu. A julgar pela capa, que representa o supracitado Pazuzu em meio às ruínas de um castelo medieval segurando uma espada, pensei que seria agraciado com alguma banda tradicional de black metal, talvez até muito semelhante ao Abigor, que já foi uma de minhas preferidas – mas, tendo pesquisado a respeito, vi que Pazuzu é um compositor de dark ambient. Animei-me; um bom álbum de dark ambient sempre ajuda-me a acalmar os ânimos e a deixar a Imaginação planar livremente. Quis experimentá-lo… e do princípio ao fim desatei a chorar de tanto rir.

Instrumentalmente não é assim tão mau: diria, inclusive, que se assemelha muito a trilhas sonoras de jogos eletrônicos antigos. Muitas faixas poderiam ter sido retiradas de algum velho RPG dos anos 90. O problema em si se inicia quando alguém abre a boca para cantar – ou melhor, gritar, já que o fluxo da música é quebrado pelos constantes urros guturais de Pazuzu. A grande maioria das faixas contém pequenos diálogos teatrais entre Pazuzu e uma moça, lidos quase sem variação de entonação; tristemente, tem ela uma boa voz. Pelo menos, os diálogos com ela são melhores do que aqueles em que Pazuzu interpreta um único personagem, como em “The Crusades”, a pior faixa do álbum todo. Removendo os vocais, muitas faixas seriam excelentes, como “Incantation of the Firegod” e “The Urilia Abomination”, apontando a temática medieval/Oriente Médio que o álbum pretendeu expor – felizmente, “The Churning Seas of Absu” é uma agradável instrumental e está entre uma das poucas canções que valem a pena ser ouvidas.

A meu ver, “And all was silent”… foi gravado para dois tipos de pessoas: adolescentes sorumbáticos metidos a satanistas e entusiastas de música estranha (tanto no bom quanto no mau sentido da palavra). Espero, porém, que alguém faça a gentileza de remover todas as suas partes vocais e deixar-me com uma versão instrumental para meu apreço…

(São Carlos, 30 de março de 2022)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 09/02/2015
Reeditado em 30/03/2022
Código do texto: T5131162
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