O Payz do Pitanguy

* Prof. Dr. Arnaldo de Souza Ribeiro

“Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe”.

João Guimarães Rosa. Médico, humanista, escritor e diplomata. Nasceu em Cordisburgo - MG, no dia 27 de junho de 1908 e faleceu no Rio de Janeiro - RJ, no dia 19 de novembro de 1967.

1. Introdução

No dia 17 de dezembro de 2014, membros do Poder Legislativo, membros do Poder Executivo, secretários municipais, educadores, conselheira, gestor do Circuito Verdes Trilhas, empresários, comunidade, parentes e amigos do Prof. Raimundo da Silva Rabello o receberam em Leandro Ferreira – sua terra natal – em concorrida solenidade cívica, cultural e fraterna, para o lançamento de seu livro: O Payz do Pitanguy, coeditado com a Universidade de Itaúna – UIT.

Autoridades presentes: Juliano da Silva Pereira - Presidente da Câmara Municipal; Aparecida Lino - Vice-prefeita; Maria Aparecida Benfica Rodrigues - Diretora do Departamento Municipal de Educação, Esporte, Lazer, Cultura e Turismo; Nália Aparecida de Lacerda Viana - Diretora do CEMEI Raul Ribeiro; Eugênia Maria Ribeiro de Araújo - Diretora da Escola Estadual Coronel Antônio Corrêa; Amélia Viviani Ferreira dos Santos – Proprietária da Vivica Tour — Excursões técnicas e Pedagógicas; Ângela da Silva Viana - Conselheira do Conselho Estadual de Turismo; Elisiário Alves de Souza Neto - Gestor do Circuito Verde Trilha dos Bandeirantes, Luís Sebastião Fideles – Auxiliar do Departamento Municipal de Turismo, Cultura, Esporte, Lazer e Educação.

Todas essas autoridades de forma clara, sucinta, objetiva e fraterna manifestaram acerca da obra, da dedicação e da percuciência com a qual o trabalho foi elaborado e sua importância para registrar e divulgar a história, as tradições e a cultura da região de Pitangui.

2. Pronunciamento do Prof. Raimundo da Silva Rabello.

Em seu pronunciamento, o Prof. Raimundo da Silva Rabello seguiu a mesma métrica do livro, dividido em três partes, sendo: Pitangui, Leandro Ferreira e Conceição do Pará. Seu pronunciamento estruturou-se em: palavras iniciais, comentário geral acerca do livro e pontos específicos.

Visivelmente emocionado o iniciou. Naquele instante, era um filho que ia falar acerca de três parentes próximos: avó, mãe e tia, tendo em vista que nasceu em Leandro Ferreira, então distrito de Pitangui, hoje uma das 42 cidades que saíram de seu ventre. E assim fez a abertura:

Nasci em um distrito de Pitangui chamado Leandro Ferreira, pequena povoação a 25 quilômetros da sede. Aos 11 anos fui conhecer a cidade. Ao contemplá-la, fui envolvido por inaudito deslumbramento, um choque inefável, como se fosse sonho, de quem se defronta com algo que não imaginava existir, tal a visão de passado que ela me proporcionou.

Meu espírito juvenil não sabia o que era o Passado, a História.

Tomei conhecimento em poucos minutos que aquela cidade, a sede do meu município, carregava séculos de existência, que ali nasceram meus antepassados, e que, portanto, eu tinha raízes ancestrais. Não estava solto na terra.

Essa noção de ancestralidade, tão necessária a todos nós, estava ali, ao meu alcance, consubstanciada na beleza barroca das igrejas, do casario antigo, dos palacetes e casarões, das ruas em curvas e das ladeiras, de toda bela arquitetura colonial, enfim; juntamente com a nostalgia emanada das minas de ouro desativadas, adormecidas.

A partir de então encontrei a mim mesmo.

Concluída a primeira parte, na segunda, de forma didática, resumiu as 329 páginas que compõem o livro e na terceira, encerrou com os comentários acerca dos pontos mais relevantes a seu juízo. Embora os vinte e seis capítulos que compõem O Payz do Pitanguy sejam instigantes e elucidativos.

2. Pontos relevantes ocorridos em Pitangui

Entre eles, são acentuados: A Rebelião de Domingos Rodrigues do Prado; A Devassa da Inconfidência atinge Pitangui direta e indiretamente; Padre Belchior e dom Pedro I e Gustavo Capanema.

2.1 A Rebelião de Domingos Rodrigues do Prado

A partir de 1700, com a descoberta do ouro em Minas e o declínio dos Engenhos no nordeste, a Coroa Portuguesa implantou a cobrança de um novo imposto denominado de Quinto Real, orçado em oito oitavas de ouro por bateia, o que não agradou aos mineradores.

Resistência e revoltas eram constantes em Pitangui. Durante dez anos, com final em 1720, Domingos Rodrigues do Prado, juntamente com seu sogro, o Anhanguera, além de bandeirantes e mineradores protagonizaram diversos motins e rebeldias, com as quais se perderam muitas vidas, inclusive de autoridades e militares a serviço da Coroa em Pitangui.

No final do ano de 1719 o governo português da Vila estabeleceu o monopólio da cachaça, o que fez cessar repentinamente a renda de inúmeros produtores – da pinga aos diamantes – tudo poderia passar a monopólio estatal, chamado estanco.

Diante dessas extorsões, Domingos Rodrigues do Prado, mais uma vez, resiste e incita a população a acompanhá-lo em outro levante, denominado pelo governador da capitania dom Pedro de Almeida, conde de Assumar, de “Motim da Cachaça”.

Neste sentido ensina o Prof. Raimundo da Silva Rabello:

A rebelião da cachaça foi a gota de fel que fez transbordar a ira de Assumar, o conde governador, como logo se cogitou.

O movimento armado que ficou conhecido popularmente pela expressão “rebelião da cachaça” foi uma violenta e vitoriosa reação dos pitanguienses, em 1719, guiados por seus principais líderes, para que a Câmara suspendesse o alvará que estabelecera o estanco sobre a bebida, tornando-a monopólio municipal. [1]

Diante de mais essa resistência à Coroa, esta suspende o Ato, por pouco tempo.

2.2 A Devassa da Inconfidência atinge Pitangui direta e indiretamente

Pouco se registrou e muito pouco também se sabe da presença do irmão de Joaquim José da Silva Xavier e de outros heróis da Inconfidência em Pitangui, ao tempo em que eclodiu a perseguição e prisão dos Inconfidentes.

Àquele tempo também se encontrava radicado em Pitangui João de Souza Costa, irmão de Cláudio Manoel da Costa e João Francisco das Chagas, amigo do padre Rolim. Todos foram penalizados na Devassa, sendo que João Francisco das Chagas, inocente, ficou preso durante trinta meses.

A presença do padre e advogado Domingos da Silva Xavier veio à lume graças à pesquisa do autor no Arquivo Judiciário de Pitangui, onde encontrou vários processos em que Domingos da Silva Xavier foi procurador.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Domingos da Silva Xavier, irmão de Tiradentes – padre e advogado, foi vigário da Vara de Pitangui entre os anos de 1776 e 1789, ou seja, até eclodir a Sedição de Vila Rica.

Por que ele desapareceu da Freguesia justamente quando houve as prisões dos Conjurados? Por que nada existe sobre sua pessoa nos arquivos da Paróquia? Um historiador de Pitangui também ficou frustrado, como veremos. [2]

O livro e o pronunciamento do autor avivaram essa questão e alertaram para esses importantes acontecimentos, que merecem maiores pesquisas, questionamentos e estudos.

2.3. Padre Belchior Pinheiro de Oliveira

Nasceu no dia 08 de dezembro de 1775, no Arraial do Tijuco, atual Diamantina. Foi nomeado vigário colado de Pitangui através de Carta Régia assinada por Dom João VI, no dia 23 de agosto de 1813 e empossado em Mariana, no dia 04 de maio de 1814. Concretizou essa posse em Pitangui, na Igreja Nossa Senhora da Penha, no dia 18 de maio de 1814, onde permaneceu por 42 anos à frente do paroquiado.

Foi vereador em Pitangui e, eleito deputado às cortes de Lisboa, negou-se a viajar para Portugal, em corajoso ato de protesto.

Na assembléia constituinte de 1823, foi contra os absolutistas, o que acarretou seu exílio por seis anos na Europa.

Padre Belchior teve intensa e edificante vida pública e religiosa. Articulou, com deputados, maçons e com outros patriotas, a Monarquia Constitucional. Como um dos defensores da Independência do Brasil, integrou a comitiva que acompanhou o Príncipe Regente nas missões pacificadoras de Minas Gerais e de São Paulo. Esteve presente e influenciou de forma efetiva o então Príncipe Regente a proclamar a Independência política do Brasil, no dia 07 de setembro de 1822, às margens do Riacho Ipiranga.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Padre Belchior lê as missivas em voz alta, para todos, a pedido do príncipe, que logo manifesta extremo descontentamento ante a prepotência de Lisboa. Conferencia por algum tempo com o padre, personalidade mais importante da comitiva oficial, solicitando aconselhamento, ao final.

Ouvindo então unicamente a ponderação conscienciosa de seu conselheiro, padre Belchior Pinheiro de Oliveira, de que o caminho era a separação, dom Pedro resolve proclamar nossa independência naquele mesmo instante. [3]

2.4 Gustavo Capanema Filho

Nasceu no dia 10 de agosto de 1900, no distrito de Onça do Pitangui, no município de Pitangui. Desde criança marcou-se por sua luzidia inteligência e, sobretudo, pelo seu equilíbrio e por sua força de trabalho. Como ministro de Getúlio Vargas criou inúmeros museus, bibliotecas, institutos culturais e escolas técnicas. Revolucionou o ensino superior com a criação de novas faculdades e de dezenas de novos cursos, pois o país só tinha os cursos tradicionais: Engenharia, Direito e Medicina.

Frente à pasta da Educação e no Parlamento, contribuiu de forma significativa para que surgisse um Brasil Novo e moderno, mediante o que se chamou de Revolução da Cultura.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Gustavo Capanema foi grande articulador político. Quem revê os momentos cruciais de nossa história recente encontra quase sempre a oportuna intervenção do verdadeiro estadista que ele foi, dotado de fulgurante inteligência e cultura humanística, além do talento político voltado ao bem comum.

Como deputado e senador, teve atuações brilhantes pelo civismo demonstrado em muitas situações difíceis para o país. Em alguns momentos históricos o digno parlamentar contribuiu em grau definitivo na resolução de impasses institucionais. Fez da política um exercício criador, empreendedor, dentro da moral e da justiça. [4]

No capítulo destinado a Gustavo Capanema Filho, o autor relatou todos os pontos relevantes de sua vida pública, dentre eles a providencial desistência em candidatar-se à Presidência da República, na eleição de 1955, com vistas a fortalecer a candidatura de seu amigo Juscelino Kubitscheck de Oliveira.

2.5. Joaquina de Pompéu e Maria Tangará

Mesmo em um livro de pesquisa histórica e historiográfica, o autor rendeu-se ao encanto e à riqueza das lendas e do folclore existentes na região e, sem prejuízo do cientificismo da obra, trouxe-as em várias passagens como instigantes intróitos às histórias reais de figuras lendárias, entre elas: Joaquina de Pompéu e Maria Tangará.

Joaquina de Pompéu, Sinhá Brava ou Dama do Sertão - Joaquina Bernarda da Silva de Abreu e Silva Castelo Branco Souto Maior de Oliveira Campos nasceu em Mariana, no dia 20 de agosto de 1752.

A então criança Joaquina, com apenas onze anos, em razão da educação obtida de sua falecida mãe, já se postava de forma firme, determinada, coerente e independente. Atributos que conservou por toda sua vida. Enviuvou-se aos 52 anos, ocasião em que começou a construir de fato sua fama e fortuna.

Participou ativamente da vida pública do centro-oeste mineiro e do Brasil. Proveu a Família Real, em 1808, de roupas e alimentos e teve participação indireta na Independência do Brasil, com o envio de bois para as tropas de Dom Pedro I, em combate contra aqueles que resistiam e contestavam a Independência na Bahia, no ano de 1823.

Joaquina de Pompéu, além do imenso patrimônio econômico, deixou também uma numerosa descendência, conforme ensina o historiador e pesquisador paraminense Fernando Martins Ferreira:

Dessas uniões resultaram 87 netos, 333 bisnetos, 11.108 trinetos e 14.637 tetranetos. Sua descendência hoje é calculada em aproximadamente 40.000 pessoas. Dos seus descendentes, três já se tornaram presidentes do Brasil, quatro se tornaram governadores de Minas Gerais e vários participaram da vida pública nacional como senadores, ministros de Estado, deputados, prefeitos além de diversas autoridades eclesiásticas.[5]

Maria Tangará - Maria Felisberta da Silva, filha de Miguel Gonçalves Palmeira e Dona Anna Teresa da Silva, foi mulher rica e poderosa, porém a história procura imputar-lhe somente eventuais maldades e, sobretudo, crenças ligadas à magia.

Heroínas ou não, o fato é que, quase 200 anos depois de falecidas, seus nomes e vidas ainda motivam calorosas discussões entre aqueles que as defendem e aqueles que as condenam, o que comprova a importância que representaram enquanto vivas.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

A animosidade entre Maria Tangará (Maria Felisberta) e a Dama do Sertão (Joaquina Bernarda) ocorreu, segundo consta, por ciumeira ao longo do tempo. Mas houve querelas entre elas. Uma ação arrastou-se na Justiça até após a morte de Joaquina, como pude constatar no Arquivo Judicial de Pitangui. Joaquina era viúva, quando do início do processo, movido pelo marido de Tangará. Eis o registro:

“Arrombamento dos valos da Fazenda da Rocinha, propriedade do sargento-mor Inácio Joaquim da Cunha, em que tomou parte dona Joaquina Bernarda da Silva Abreu Castelo Branco” (AJP IV, 104, folhas 191-v e seguintes, do ano de 1826). Encerrou, portanto, dois anos após sua morte. [6]

Pelo exposto, possuíam motivos para desinteligências e, sobretudo, motivos reais e não aqueles levianos ou folclóricos que a sabedoria popular lhes imputou ao longo dos séculos.

Nesse sentido era o entendimento do médico, professor, poeta e humanista pitanguiense que residiu em Itaúna, Prof. Dr. José Campos. [7]

3. Leandro Ferreira

De sua terra natal o autor acentua em sua fala a presença do fundador Leandro Ferreira, a Baronesa Isabel de Sam Payo e o Santo das Terras do Poente.

3.1 Leandro Ferreira de Siqueira

Era descendente de família nobre, nascido em Portugal no ano de 1718, descendente dos velhos troncos portugueses. Era da mesma linhagem do bandeirante Bartolomeu Bueno de Siqueira, primeiro bandeirante a palmilhar as inóspitas selvas do sertão dos rios Pará e São Francisco, nas imediações onde se encontram hoje Leandro Ferreira e Martinho Campos.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

O processo de desbravamento de vasto território do Alto São Francisco, epopéia singular levada a cabo por intrépidos bandeirantes e sertanistas, no início do século XVIII, contou com o dinamismo do notável aventureiro e colonizador Leandro Ferreira de Siqueira. Ele nasceu em 1718, em Portugal, e faleceu em Pitangui em 1794. Tinha casa naquela vila e na “Fazenda do Leandro”. [8]

Antes de estabelecer-se na região de Pitangui, exerceu a mineração na região de Mariana, por volta de 1750. Nesta ocasião iniciava o declínio da exploração do ouro em Ouro Preto e Mariana.

3.2 Isabel de Sam Payo – Baronesa de Leandro Ferreira

Acentuou o autor que Leandro Ferreira, além de berço de sertanistas e desbravadores, também contribuiu com a formação nobiliárquica brasileira, ou seja, viu nascer uma baronesa.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

O casal Joana e José teve os filhos Pedro, Francisco, Modesto, Guilherme, Máximo, Antônio, Maria Carolina de Sá e Isabel de Sam Payo, mesmo nome da avó e que se tornaria baronesa ao casar-se com Antônio Zacarias Álvares da Silva, o Barão de Indaiá. Antônio Zacarias, falecido em 25 de agosto de 1901, foi o primeiro presidente da Câmara de Dores do Indaiá, instalada em 1900. Era bastante idoso.

A baronesa dona Isabel, antes de se casar, morava na fazenda Bahia do Lambari, em Leandro Ferreira, com os referidos irmãos e com a mãe, dona Helena, já viúva, que dirigia os escravos e os serviços nos currais e plantações, multiplicando o patrimônio deixado pelo marido. [9]

Ao lado do glamour da nobiliarquia, encontrava-se também presente a determinação e independência das mulheres, nos termos vividos pelas heroínas Maria Joaquina e Maria Tangará.

3.3. Um Santo nas “Terras do Poente”

Embora não tenha nascido em Leandro Ferreira, o Padre Libério a adotou como mãe e ela e os seus cidadãos o acolheram como filho, irmão e pai. A prova dessa assertiva encontra-se na súplica ao Bispo, para que fosse sepultado em Leandro Ferreira, no que foi atendido. Em sua memória, a cidade ergueu-lhe um Mausoléu, que se tornou endereço de visitas e romarias de pessoas da cidade, da região e de diversificados pontos do País.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Padre Libério Rodrigues Moreira, espírito iluminado, sempre teve o reconhecimento do povo pelas peregrinas virtudes e o dom de intermediar curas divinas de doenças físicas e psíquicas de devotos que lhe dirigem súplicas. Também conforta aqueles que padecem de angústias e inquietações existenciais. [10]

Padre Libério viveu e aplicou os Evangelhos nos exatos temos em que foram ensinados e vividos por Jesus Cristo. Embora caminhe lentamente, desde 1996, o seu processo de canonização, seguramente, a Região Centro-Oeste de Minas terá o seu Santo de direito, o que já o tem de fato.

4. Conceição do Pará

Até o final do século XVII não havia população branca fixada em Minas Gerais. Os bandeirantes paulistas circulavam por aqui somente na busca de índios para o trabalho escravo nas fazendas de São Paulo. Nos últimos anos deste referido século, descobriram grandes jazidas na região de Ouro Preto e Mariana o que motivou a criação de alguns povoados e, consequentemente, a fixação de grande número de pessoas, entre elas vários portugueses que se sentiram donos das terras e expulsaram os bandeirantes descobridores.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Anos depois foram desalojados pelos portugueses que cobiçavam aqueles tesouros, na histórica Guerra dos Emboabas, ocorrida nos anos de 1708 e 1709. Alguns retornaram às suas terras; outros, formando novas bandeiras, penetraram outras áreas. Os que empenharam na conquista do Oeste descobriram generosas minas de ouro em Pitangui. Esse era o nome que os indígenas davam ao rio ali existente e que hoje se chama Pará. [11]

Muitos dos desalojados, junto dos familiares, escravos e agregados vieram para Pitangui e região e contribuíram de forma efetiva na criação de novos povoados, que se transformaram em Vilas e hoje cidades.

4.1 Santuário Nossa Senhora da Conceição

Foi construído entre 1717 e 1720 e foi o primeiro marco da fundação de Conceição do Pará, o segundo foi a Companhia de Ordenanças, no ano de 1766 e o terceiro a criação do Curato no ano de 1819.

4.2 Trilhas de bandeirantes e estradas reais

Caminhos, trilhas, picadas e veredas eram os nomes que se davam às estreitas estradas então existentes. Sabe-se que existiam as estradas clandestinas, para contrabando de ouro, no tempo da mineração. A picada oficial, autorizada pelo governador e pelo rei, recebia o nome de Estrada Real.

Neste sentido Raimundo da Silva Rabello:

Picada de Goiás passando por Pitangui (Encurtou a distância Pitangui-São Paulo). O novo governador (Martinho de Mendonça) concedeu a construção dessa estrada ao capitão Manoel da Costa Gouveia, com seu destemido grupo de sertanistas associados, na mesma época, sob as mesmas condições de estabelecerem fazendas, na direção norte. [12]

Embora o livro O Payz do Pitanguy positiva de forma abrangente e comprovada dois séculos de história, em seu pronunciamento em respeito às pessoas e ao tempo, o autor elegeu estes pontos e o fez com invulgar maestria, o que mereceu a atenção e o aplauso de todos os presentes.

5. O livro na visão do acadêmico, dos historiadores, do embaixador e dos jornalistas.

Entre as várias pessoas que tiveram acesso ao livro, antes e depois de seu lançamento e sobre ele se manifestaram, destaco: Professor Faiçal David Freire Chequer; Jorge Lasmar, José Raimundo Machado, Carlos Alberto Penna, Ângela Faria e Paulo Henrique Lobato.

5.1 Professor Faiçal David Freire Chequer

Reitor da Universidade de Itaúna, Professor da Instituição e membro da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, na qual ocupa a cadeira de n. 40. Assim se manifestou na orelha de capa do livro:

[...] Em epítome, esta obra de escol transcende a simples leitura, pois leva o leitor a uma verdadeira inserção no seu realístico contexto, que abrange e envolve, dentre outras, temáticas como expedições, bandeiras, rebeliões, inconfidência, lendas, histórias, pioneirismo, santidade, sinhôs e sinhás, coronéis e matriarcas, e povoadores.

5.2 José Raimundo Machado

Promotor cultural, pesquisador da história e do folclore pitanguienses, instrumentista, compositor e artista plástico. Assim se manifestou na apresentação do livro:

[...] Pelo modo original de exposição dos fatos históricos, o livro dá vida, expressividade e movimento a uma História Regional exuberante e surpreendente. Bandeirantes e sertanistas, tendo suas bases e escravarias já fincadas nas minas de Pitangui, penetraram também, após a virada do século XVII, as florestas do Baixo Pará, Alto São Francisco e Altos Paranaíba. Na frenética busca do ouro, desbravavam os sertões e fundavam arraiais, lançando as sementes da civilização no Oeste da Capitania.

5.3. Jorge Lasmar

Escritor, historiador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Assim se manifestou no Prefácio do livro.

[...] Esta obra é uma preciosa contribuição para a memória de Pitangui e de seu primitivo e extenso território. Aparece às vésperas do tricentenário da cidade-mãe de mais de 40 municípios, belo presente às justas comemorações que se programam. Traz de volta a epopeia das bandeiras, da formação da capitania, do ouro, dos bandeirantes e do sertão. Contém também uma bonita tonalidade antropológica, uma contribuição sociológica e política para a História do Município e de Minas Gerais. Não deverá faltar às boas bibliotecas de História.

5.4 Carlos Alberto Penna

Embaixador da Organização das Nações Unidas – ONU. Assim se manifestou em carta datada de 19 de junho de 2014.

[...] A Obra é, verdadeiramente, um exaustivo tratado de mineiridade pela análise profunda do solo fértil histórico-econômico-político-sociológico da nossa grande PITANGUY, com as imbricações correspondentes. A felicidade de intitulá-la com denso e expressivo vocábulo, hoje, quase perdido nos tempos, “PAYS”, é carregada de significado e tem o sentido profundo do resgate de verdades históricas e de seus respaldos documentais, iconográficos e testemunhais.

5.5 Ângela Faria

A jornalista assim se manifestou no dia 12 de julho de 2014, no Caderno Pensar do Estado de Minas, com um rico comentário sobre o livro O payz do Pitanguy.

[...] Não foi pouca coisa esse “país do Pitangui”: seus 24 mil quilômetros quadrados compreendem hoje várias cidades, suplantando as áreas do Chipre, da Jamaica, do Líbano e da Eslovênia, por exemplo. Professor da Universidade de Itaúna, Raimundo da Silva Rabello recorreu a pesquisadores e autores respeitados – como Capristano de Abreu, Waldemar de Almeida Barbosa, Afonso Arino de Melo Franco, Francisco Iglésias e João Antônio de Paula -, mas não deixou de valorizar a história oral de sua terra.

5.6 Paulo Henrique Lobato

O Jornalista também se manifestou no dia 03 de janeiro de 2015, no Caderno Nossa História, do Estado de Minas, com um rico comentário sobre o livro, com destaque para o capítulo intitulado: “A Rebelião da Cachaça”.

[...] O conde determinou que uma tropa fosse a Pitangui pôr fim ao levante causado pelo estanco da pinga e cobrar o débito referente ao quinto do ouro. “A Rebelião da Cachaça foi a gota de fel que fez transbordar a ira de Assumar. A ordem foi prender os líderes do motim e promover o sequestro dos bens. Iria ser instaurada a devassa. Era crime de lesa-majestade (o motim), resultando em mortes na forca e esquartejamentos”, ressaltou o historiador Raimundo da Silva Rabello, autor de O payz do Pitanguy. O livro destaca que a tropa enviada pela coroa reunia 500 homens.]

Pelo exposto, seis expoentes da cultura nacional manifestaram-se acerca da obra e enalteceram o trabalho sério e fundamentado do autor.

6. Conclusão

A obra do Prof. Raimundo da Silva Rabello tem o condão de conduzir o leitor por dois séculos de história através das suas 329 páginas. Portanto, em paráfrase ao escritor cordisburguense João Guimarães Rosa, que disse: “Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.” As horas antigas trazidas ao livro e na forma em que o fez o Prof. Raimundo da Silva Rabello, seguramente, ficarão presentes de forma indelével na memória de todos que o lerem.

Com a leitura do livro, constata-se a sabedoria, a fidelidade e o compromisso com a história com os quais o autor registrou diversificados e relevantes momentos e personagens de cada época e, sobretudo, a influência que Pitangui e seus habitantes exerceram em toda a região do centro-oeste mineiro e nos destinos do Brasil.

Humberto de Campos, que viveu de 1886 a 1934, advertia: O Brasil é um País com poucos heróis e os poucos que tem, muitas vezes, a preocupação dos brasileiros ao contrário de enaltecê-los e divulgá-los preferem detratá-los, negar-lhes os méritos e, pior, ignorar sua existência.

Ao contrário das tendências detratoras denunciadas por Humberto de Campos, o Prof. Raimundo da Silva Rabello descobre, confirma e enaltece, em sua obra, fatos, heroínas, heróis e motiva os leitores a que os conheçam e recomenda que sejam preservados e repassados às gerações futuras.

Em razão da natural parcialidade daqueles que registram os fatos históricos, também é natural e compreensivo os eventuais conflitos sobre a existência ou não de fatos narrados, divergências entre datas ou personagens. Porém, na obra ora comentada destaca-se uma personagem que é real – Pitangui – a qual, para alegria de seus descendentes, completará 300 anos de sua transformação em Vila. Foi criada no dia 06 de fevereiro de 1715, por Ato do governador dom Brás Baltazar da Silveira e instalada no dia 09 de junho de 1715.

Nestes três séculos de existência, protagonizou fatos e gerou filhos importantes e relevantes para a região centro-oeste e para o Brasil e, sobretudo, gerou 42 cidades que historicamente gravitam em seu entorno, entre elas, Leandro Ferreira e Conceição do Pará, aqui destacadas.

Portanto, louva-se a iniciativa dos poderes constituídos de Leandro Ferreira, a sociedade, amigos, parentes e todas as pessoas envolvidas, por receber o seu filho ilustre em concorrida solenidade cívica, cultural e fraterna, para pronunciar e lançar o seu livro O Payz do Pitanguy, verdadeiro depositário de dois séculos de história.

Durante sua fala, com a elegância que lhe é própria o Prof. Raimundo da Silva Rabello pediu desculpas aos presentes, caso estivesse a falar muito e a cercear-lhes o direito de ver a novela.

Entre os presentes alguém respondeu: “Não se preocupe, as novelas temos todos os dias e a sua visita e pronunciamento não”.

Espera-se que outros descendentes de Pitangui, a exemplo do Prof. Raimundo da Silva Rabello, rendam-lhe as merecidas homenagens e, sobretudo, contribuam para a divulgação e manutenção de sua história, para que ela possa continuar a testemunhar e apresentar às gerações presentes e futuras o endereço daqueles que, com seus atos de bravura e de elevado espírito de civilidade, escreveram parte importante da história do centro-oeste mineiro e do Brasil.

O livro O Payz do Pitanguy, por tudo que ele traz, constitui-se em um autêntico presente para a cidade e para todos os seus descendentes.

Itaúna, 10 de janeiro de 2015.

7. Notas

1. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 115.

2. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 123.

3. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 138.

4. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 152.

5. FERREIRA, Fernando Martins. Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro. Pará de Minas: Virtualbooks Editora e Livraria Ltda., 2010. p. 76.

6.RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 161

7. CAMPOS, José. Médico, professor, poeta, filósofo e humanista. Nasceu em Pitangui, no dia 23.10.1916 e faleceu em Itaúna no dia 14.09.2009, com 93 anos. Formou-se em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, sediada no Rio de Janeiro, em 1939. Radicou-se em Itaúna em 1941, onde prestou relevantes serviços à comunidade, na condição de médico e professor. É reconhecido e respeitado como um dos homens mais culto, discreto, educado e bondoso da história conhecida de Itaúna.

8. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 184.

9. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 253.

10. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 265.

11. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 273.

12. RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014. p. 291.

8. Bibliografia

CAMPOS, Humberto de. Carvalho e Roseiras: figuras políticas e literárias. São Paulo: W. M. Jackson INC Editores, 1951. v. 20

FERREIRA, Fernando Martins. Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro. Pará de Minas: Virtualbooks Editora e Livraria Ltda., 2010.

RABELLO, Raimundo da Silva. O payz do Pitanguy. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 2014.

RIBEIRO, Arnaldo de Souza. Pitangui: suas histórias, suas heroínas e seus heróis. Disponível em : < http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3306962 > Acesso em 30.10.2011.

_______. Um concerto histórico em Pitangui. Disponível em : < http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2153636 > Acesso em 22.03.2010.

Obs. Publicado no JORNAL BREXÓ, Itaúna, sábado, 31 de janeiro de 2015, Ano 36, N. 1960 – Páginas 08 e 09.

* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutor pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelas Faculdades Claretianas – São José de Batatais – SP. Coordenador e professor do Curso de Direito da Universidade de Itaúna – UIT – Itaúna - MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Secretário Adjunto e membro da Comissão de Direito Imobiliário da 34ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB – Itaúna – MG. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP – Belo Horizonte - MG; membro do Instituto Mineiro de Direito Processual - IMDP - Belo Horizonte - MG; sócio fundador e secretário do Instituto Mineiro de Humanidades – IMH – Itaúna – MG e membro do Instituto do Direito de Língua Portuguesa – IDILP – Lisboa. Advogado e Conferencista. E-mail: arnaldodesouzaribeiro@hotmail.com