Recebi uma fotomontagem há vários anos atrás, na qual se lê que " a potência intelectual do Homem está de acordo com a sua capacidade humorística"! 

Pensei nesta hipotética verdade filosófica e,  depois de uma conversa com um Crítico Literário ( O Saudoso Amigo e Poeta Coronel Joaquim Evônio)  que leu alguns dos meus escritos em forma de sátira, cujo título eu publiquei em Blog e Livro Homônimo "OS GAMBUZINOS"  ele me dizia...Isto que escreves resume o que penso sobre charges e outras cositas "más"  (este "cositas más" não é um predicado de boas qualidades e sim um adjectivo de quantidade usado por "nuestros Hermanos").
A cada leitura que aqui se faça as ilações são de cada um pois que, sabemos, cada leitor tem a sua interpretação pessoal. E para justificar a minha opinião pessoal a respeito, eu vou abrir uma exceção à minha Regra Ética.
Por norma eu não costumo transcrever poemas de outros autores sem a prévia permissão, mas hoje eu sigo o pensamento do Inolvidável José Régio. Quem, evidentemente,  não pode me dar autorização para eu me espelhar aqui neste seu pensamento unipessoal.
A coincidência de pensamento é simples: o Poeta faleceu no ano em que eu entrei para a Escola de Aplicação Militar por força de lei. Qualquer um, ao completar 20 anos de idade naquele tempo (1969) era obrigado a entrar para o Serviço Militar; Exército, Marinha ou Aeronáutica, e eu fui! Mas claro eu sabia que não era o meu caminho.  É que, desde que me conheço, por norma ou presunção eu também costumo recusar a ir por onde outros querem que eu vá! 
E esta sina, que há muito me fascina e faz sina, fica latente na maioria da minha modesta rota literária.  
Por isso escolhi este poema, que transcrevo com muito agrado, não por falta de talente meu ou inspiração e sim tão só porque " eu também  só sei que não vou por aí!"  

"CÂNTICO NEGRO" -  "Sei que não vou por aí!..."
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços, E nunca vou por ali.
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! --- Só vou por onde
Me levam meus próprios passos.
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí.
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Autor: José Régio
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Nota de Rodapé (in memorium)  
Meu Caro Poeta José Régio ( Data Vênia) eu faço minhas as tuas palavras pois também eu só sei que não vou por aí! e acrescento; amigos não se despedem, marcam encontro em outro lugar! Até lá... 
Silvino Potêncio
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 09/01/2015
Reeditado em 21/01/2020
Código do texto: T5096496
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