Incógnito

Num ensaio anterior escrevi, com todo o prazer capaz de demonstrar, sobre o álbum “Filme da alma”, da banda Vultos, liderada por Marcos Andrada, que tornou-se um amigo imprescindível ao decorrer deste ano de 2021, tão repleto de altos e baixos. No entanto, falar apenas deste álbum não seria fazer jus a seu talento e carreira, portanto haverei de dedicar-lhe mais algumas merecidíssimas palavras de apreço.

Além de “Filme da alma”, lançou com o Vultos “Lixo rico” em 1996, e várias demos; em 2001, a compilação de bandas fictícias “O melhor e o pior do rock do Curdistão”; e, em 2014, com a nova banda Sereialarm, “Bem aéreo” – todos projetos de altíssima qualidade lírica e musical. Por que, no entanto, nenhum deles é tão conhecido pela grande mídia?

O documentário “Incógnito”, de 2016, tenta não só responder a esta pergunta como também narrar sua trajetória musical; uma trajetória feita de alegrias e decepções, como sempre o é, narrada pelo meu amigo de forma honesta e sincera. E a resposta que pode ser retirada é aquela famosa citação: “São tempos difíceis para os sonhadores”.

Enquanto a noção de lucro estiver inexoravelmente ligada à arte, todos aqueles que são verdadeiramente adeptos dela em sua forma mais pura haverão de ser rebaixados perante a vulgaridade das massas. Para fazer-se bem-sucedido (em todo o mundo, mas particularmente neste país ao que tudo indica) é preciso apelar aos intelectos atrofiados da população habituada ao status quo – qualquer coisa que vá além de sua capacidade de compreensão é rechaçada pelos grandes, exatamente por não TRAZER LUCRO.

Sim! É algo deveras entristecedor. Longe, porém, de acatar a mensagem de “abraçar o fracasso” passada pelo documentário (pois não considero a história de vida de meu amigo uma de fracassos), digo eu que a grande lição a ser depreendida de toda esta história é que a Arte com A maiúsculo sempre haverá de triunfar nos corações dos “happy few”, e por mais que permaneça assim restrita a este círculo limitadíssimo prosseguirá pura e livre das profanações do Deus-Dinheiro e das más-línguas das massas.

(São Carlos, 3 de dezembro de 2021)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 20/08/2014
Reeditado em 25/12/2021
Código do texto: T4929885
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