De volta ao oeste

Gostaria de compartilhar com o estimado leitor algumas páginas de tempos mais simples de minha vida, para que compartilhemos de algumas saudades.

Em meus tempos de infância, sempre ficava ansioso para sair em longas viagens de carro e contemplar as paisagens rurais – à medida que a cidade se distanciava e minha visão se enchia com restaurantes à beira da estrada, fazendas, plantações de cana e postos de gasolina, deixava a imaginação me levar num gostoso passeio, conjeturando como seria a vida destas pessoas em regiões menos urbanizadas.

Também tenho vagas memórias de assistir a filmes antigos de faroeste com meus avós, e por mais que raramente prestasse atenção ao enredo, algo naquelas cenas de cor terrosa me fascinava em demasia. Somando as duas coisas, creio serem elas a razão de meu interesse nostálgico pela estética rural daquelas fazendas de filmes e desenhos americanos e tudo que tenha a ver com ambientes bucólicos.

Vários anos depois, já adulto e poeta, lá estava eu à procura de novas inspirações quando um singularíssimo álbum caiu-me em mãos, trazendo à tona minhas lembranças tão agradáveis de infância: a capa de cor terrosa, representando um celeiro e um fazendeiro em meio a uma plantação de milho, parecia sair de alguma destas minhas fantasias, e até o título recordava-me de algo que jazia numa galeria há muito sepulta de meu subconsciente – “De volta ao oeste”.

Este álbum do conjunto 3 Hombres demonstra um ótimo rock com influências de música country americana, e o resultado desta mistura é uma sonoridade bucólica campestre perfeita para sair a viajar (tanto na vida real quanto metaforicamente) ou simplesmente relaxar, olhando o céu do entardecer. As próprias letras têm um caráter de impermanência, e discorrem quase todas sobre a necessidade do eu lírico de partir – cruzando estradas, linhas de trem, hotéis desertos… Tudo isso invocando imagens de saloons, carroças, crânios de boi dependurados nas paredes, Southern Belles – e criando um faroeste intimista e atmosférico.

Como já faz algum tempo que não viajo, ainda não tive a oportunidade de ouvi-lo na estrada para corroborar os fatos, mas ouvi-lo em meu quarto, ao entardecer, na companhia de “dez mil latas de cerveja” com o Sol explodindo a janela, é uma experiência quase que transcendental – fazendo com que repita a letra com toda a tranquilidade do mundo:

“Hoje não vou existir

Não vou pensar, afinal

Eu já estou fora de mim

Afinal”

(São Carlos, 4 de novembro de 2021)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 28/03/2014
Reeditado em 04/11/2021
Código do texto: T4747444
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