Boogerman: A pick-and-flick adventure

Uma certa figura cujo nome não me recordo (e tenho preguiça de pesquisá-lo) disse certa vez que os anos 90 foram “a era do vômito”, ou coisa parecida, em referência ao humor que dominou quase a década inteira – e é a mais pura verdade, parando para pensar.

No embalo de “Ren & Stimpy”, que foi, sem sombra de dúvidas, um dos maiores fenômenos culturais dos 90s, ninguém mais tinha vergonha de empregar descaradamente o assim chamado “toilet humor”; minha alegria de criança era ligar a televisão e rir de xixi, cocô, pum e vômito, pois tive uma infância muito querida e pais muito liberais – e se mesmo Mozart ria das mesmas coisas que eu, quem pode me julgar mais de 300 anos depois dele?

Uma grande prova de que nos 90s as pessoas não só eram mais criativas, como também tinham mais senso de humor, é um certo jogo lançado em 1995 para o Super Nintendo e o Mega Drive, que serve como o suprassumo do toilet humor que abundava na época – mas porque não foi tão popular como deveria, nunca vou saber, e eu mesmo não cresci jogando-o, tendo-o descoberto só depois de velho. Trata-se do divertido “Boogerman: A pick-and-flick adventure”.

Controlando o boboca super-herói Boogerman, o jogador deve explorar mundos de carne e fluidos corporais, não poupando catarro, meleca e puns para derrotar inimigos tão nojentos quanto, mas carismáticos e criativamente desenhados. Em termos de jogabilidade é um platformer padrão dos 90s, como quase todo jogo ambicionava ser, mas tal falta de inovação é compensada pelos gráficos coloridos e surreais, pelas animações bastante fluidas dos personagens e pela trilha sonora. Não era algo tão diferente da proposta do próprio “Ren & Stimpy”, então, de fato, por que a década não abraçou este jogo é algo além de minha compreensão.

Mais triste ainda é que, no começo dos anos 2010, os desenvolvedores planejaram um remake de “Boogerman”, lançando uma campanha de financiamento coletivo – que não deu certo; e ao que tudo indica nunca mais ouviremos falar deste personagem tão engraçado, caricato e inovador – o que só comprova a falta de bom humor e criatividade que é de praxe deste século.

(São Carlos, 12 de março de 2024)