Sobre GOZO FABULOSO, de Paulo Leminski
SOBRE GOZO FABULOSO, DE PAULO LEMINSKI
Sempre tive uma grande admiração por Paulo Leminski, mesmo nunca o tendo encontrado pessoalmente, ainda que tenhamos sido contemporâneos. Quando ele faleceu, em 1989, eu tinha 24 anos de idade e, apesar de já ter publicado um livro, ainda estava tateando na escuridão da literatura. A sua poesia curta, de poucas palavras e forte impacto me seduzia. Depois, tomei conhecimento da sua grande afinidade com a cultura japonesa e com os haikais. Somente dez anos após a sua morte é que criei o poetrix, o terceto tropical, através do qual tive o prazer de conhecer a sua ex-esposa Alice Ruiz, maravilhosa poetisa.
Agora, concluo a leitura do seu excelente livro de contos GOZO FABULOSO. Ali, tomei conhecimento que, a princípio, o próprio Leminski era um acerbo crítico do conto. Felizmente, com o tempo, mudou de ideia e nos legou essa fascinante obra.
A brevidade que o caracterizou na poesia, se repete em GOZO FABULOSO. A grande maioria dos contos são curtos, em vários deles nem é citado o nome das personagens, algo inusitado, que também chamou a minha atenção. O livro é um show de criatividade. Transitando do trágico ao cômico, muitas vezes em um mesmo texto, Leminski explora as várias possibilidades temáticas que o conto nos dá: ele viaja do western ao realismo fantástico, do urbano ao caipira, da high society à periferia.
Alguns contos, em especial, me chamaram mais à atenção. “Wanka, o dia em que as pedras pensaram”, por exemplo, é um conto ambientado no universo da arqueologia, em que o protagonista é um verdadeiro Indiana Jones. “De frente pra luz” nos lembra uma história fantástica de Edgar Allan Poe, ou o filme “Os Outros”. “Elas”, de apenas três páginas, é tão tenso que nos provoca uma intensa sensação de angústia. Em “Sintomas” ele explora, de forma cômica e singular, a doença de escrever, à semelhança de uma crônica de Veríssimo, com tema similar, e “Bauhaus Dazibaos” é um louvor ao terceto, forma poética pela qual ambos somos apaixonados. Ao todo, 40 textos, cada um mais diferente do outro, mostrando toda a versatilidade do autor.
Enfim, em “O resto imortal” ele é quase profético: “queria não morrer de todo. Não o meu melhor. Que o melhor de mim ficasse, já que sobre o além sou todo dúvidas.” Fique tranquilo, Leminski, o melhor de você ficou conosco, e com todas as gerações futuras: os textos maravilhosos, em verso e prosa, que você nos legou.