Muzak

Acho digno começar o presente ensaio com o bom e velho ditado – “os melhores perfumes estão nos menores frascos”; particularmente porque hoje trago à tona não um álbum musical long play como de costume, e sim um breve EP de seis faixas. No entanto, isto não lhe tira quaisquer méritos, e inclusive o torna mais interessante de se discorrer a respeito.

Antes de mais nada, entretanto, devo mencionar en passant as alegres circunstâncias em que vim a conhecê-lo, e neste meio-tempo promover um outro álbum, matando dois coelhos com uma cajadada só.

O repertório da célebre gravadora independente Baratos Afins foi uma parte integral de meu crescimento artístico, em particular a série de compilações “Não São Paulo”, exibindo vários artistas dos mais diferentes estilos. Tanto quanto pude, localizei quaisquer álbuns que vieram a lançar após sua participação nas compilações, e a banda Muzak, pelo menos até onde vai meu conhecimento, foi a única a lançar um EP, e não um long play.

Suas participações em “Não São Paulo” incluem “Jovens Ateus” e “Ilha Urbana” – de longe, as canções mais agressivas da compilação, tornando o nome “Muzak” algo deveras irônico. Assim sendo, estava mais do que preparado para analisar seu EP, também chamado “Muzak”, de 1986; mas qual não foi minha surpresa! Era algo completamente diferente.

Seguindo por uma direção mais suave e melódica, em nada lembra suas canções anteriores; e posso dizer que até prefiro assim, pois um bocado de delicadeza na vida nunca é demais. Em verdade, poucas canções servem como genuínos hinos à beleza como “Longe Demais” e “Teu Coração”, e “Céu Escuro” é a mais expressiva demonstração de otimismo já cantada (“Vejo o meu futuro / Não desejo um céu escuro…”)

Se por um lado o fato deste EP ser o único lançamento do Muzak é algo decepcionante, pois acaba muito rápido e deixa o ouvinte na ânsia por mais, por outro isto também o torna mais especial do que outros álbuns mais longos, o que faz dele um pequeno conforto em meio aos desgostos do mundo – um pequeno e singelo, mas expressivo sinal de beleza.

(São Carlos, 8 de novembro de 2021)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 20/07/2011
Reeditado em 08/11/2021
Código do texto: T3107520
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