Metal folclore: The zoeira never ends…

Se tal como eu, meu leitor, teve a chance de vivenciar aquela década fantástica dos anos 2000 (e também foi privilegiado com um senso de humor um tanto quanto peculiar, to say the least), decerto deve recordar-se das estripulias dos garotos do Hermes & Renato na extinta e saudosíssima MTV.

Naquele tempo em que, aparentemente, as pessoas não tinham uma opinião tão injustificadamente elevada de si próprias e, consequentemente, se divertiam mais e sabiam rir mais, fosse rico ou fosse pobre, magro ou gordo, alto ou baixo – nenhuma classe social, nenhuma clique cultural estava livre de ser parodiada pelo Hermes & Renato. O ápice da brincadeira, porém, foi quando inventaram uma banda completa, o Massacration, para que pudessem parodiar os tropos da cultura do heavy metal – que, por experiência própria dela participando, é uma das mais elitistas e desprovidas da habilidade de saber rir de si própria. E não só isso; a grande maioria dos assim chamados headbangers brasileiros é dotada de um complexo de vira-lata que lhes é inculcado sabe-se lá quando, ou como.

Que somos um país de tradições emprestadas de nossos colonizadores é inegável, mas eu, pelo menos, acredito que devíamos ser gratos à nossa cultura e nossa língua, duas das coisas que deviam carregar-nos durante nossos dias difíceis idealmente. O fato de que tantas bandas brasileiras prefiram cantar em inglês e aludam ao folclore europeu quando nós próprios temos este folclore repleto de personagens coloridos tão mal utilizados pela mídia – e pouquíssimo conhecidos lá fora – é deprimente. Para a alegria de todos nós, no entanto, nem isso escapa aos olhos do filhinho do Deus Metal, Detonator, que após ter colocado o Massacration em hiato em 2012 iniciou um novo projeto para trazer orgulho a nós, brasileiros, sempre com bom humor e ironia em doses saudáveis.

Agora com “As Musas do Metal”, seu trabalho de estreia saiu em 2014 (coincidindo com a Copa do Mundo…) sob o título “Metal folclore: The zoeira never ends…”. Na forma de um álbum conceitual narrado por ninguém mais, ninguém menos que Alexandre Frota, Detonator se aventura em nossas terras tupiniquins conhecendo as criaturas de nosso folclore, com letras hilariantes (cantadas em português!), participações especiais de peso (uma até mesmo de Saga de Gêmeos!) e melodias que nada deixam a dever às grandes bandas anglófonas, é um álbum feito para calar a boca de todos aqueles que acham que a cultura brasileira não serve para ser explorada positivamente.

Lembrem-se, leitores! A maior arma que temos contra aqueles que querem vilipendiar nosso país é a cultura, portanto não deixemos que nossas tradições sejam esquecidas – comemoremos, assim, um bom Dia do Saci quando chegar o próximo 31 de outubro, e àquele que se diz “headbanger”, mais amor por sua língua! Você é brasileiro e cresceu no metal, então é metaleiro. E, como não podia deixar de ser, claramente transmito meus agradecimentos ao filho do Deus Metal por agraciar nossa humilde pátria com sua estadia.

(São Carlos, 21 de dezembro de 2021)