O palhaço e a janela

Deixei a janela aberta. Através dela, a brisa noturna astuciosamente tomou o ambiente, e com ela, passageiras indesejadas: as vozes, seguindo seu rastro, me tomaram novamente.

De novo não! Não… por favor.

Tento fazê-las sumir, mas não adianta.

Durante muito tempo eu tentei, sem sucesso. Tentei, tento. Agora não importa a brisa ou a janela; tudo não passa de um circo cujo palhaço repete a mesma piada cem vezes, até que as lágrimas nos seus olhos revelam, por trás do sorriso maquiado, o sofrimento. Mas o espetáculo nunca se encerra definitivamente.

Ao fechar e abrir a janela inúmeras vezes, na tentativa de exaurir as vozes num esforço sacrificante—como um pedido de desculpas por um tolo esquecimento—o silêncio retorna, temporário. E, por um breve momento, o palhaço descansa.