Aforismos (40): O juiz e o profeta / Direitos humanos

Disse o ministro Barroso que cabe ao juiz constitucional "interpretar o sentimento social, o espírito de seu tempo e o sentido da história. Com a dose certa de prudência e ousadia" -- A dose mínima de humildade, naturalmente, não poderia estar inclusa na declaração.

Por que motivo insisto que o principal problema dos burocratas de hoje não é técnico, mas humanístico? Ora, se um tal jurista tivesse tido educação bíblica na juventude, não confundiria a função do juiz e a do profeta.

O profeta ouve a voz do espírito do tempo; o demagogo a toma pela voz da imprensa e das massas.

O espírito do tempo não se faz ouvir na praça pública, mas no deserto.

A legitimidade do profeta se prova no batismo de sangue, mas a sabedoria do demagogo prevalece pela força das armas.

O profeta é uma instância absolutamente livre do real. Logo, jamais poderia usar vestes talares, preferindo peles de camelo.

Sim, porque o Espírito (do Tempo) é livre e só sopra aonde quer. Logo, fareja a léguas e vomita o rabo preso.

A frequência do Espírito do Tempo não pode ser captada pelas antenas dos intelectuais e das baratas, porque ambas estão sujas de lixo.

Os direitos humanos não deveriam ser interpretados, mas incensados.

Disse o Eclesiastes, "Quem fizer uma cova cairá nela, e quem romper um muro, uma cobra o morderá. Quem arranca pedras será ferido por elas, e o que rachar lenha expõe-se ao perigo."

Sim, os guardiões dos direitos humanos, se o fossem de fato, deveriam dar as mãos uns para os outros e louvar em roda as tábuas da lei, recitando orações milenares de cor, para afastar de si os demônios da prevaricação e da perversão da palavra.

As palavras que proclamam os direitos humanos são as palavras de uma lápide.

Os direitos humanos apresentam distinção qualitativa das outras espécies de direitos. Eles se diferenciam nisto: que as demais normas necessitam de uma hermenêutica do direito vivo, mas os direitos humanos necessitam de uma hermenêutica do direito morto.

Os direitos humanos não são opiniões, mas tabus.

J C B Camerini
Enviado por J C B Camerini em 09/09/2024
Reeditado em 09/09/2024
Código do texto: T8148015
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