Alma Oceânica
"Basta!" Foi com esta exclamação no meu pensamento que eu saí de casa sozinho, meio cego e indiferente para tudo ao meu redor. Cheguei numa praia solitária, com o coração ainda golpeando meu peito cansado como um martelo. Caminhei um pouco sobre a areia fria, respirando a brisa morna do mar à minha frente. O céu negro, com suas estrelas em forma de pingos de prata, parecia cheio de solidão e silêncio naquela tranquila imensidão que ia do mar ao céu abissal. Eu estava perdido entre esses dois abismos absolutos. Queria ser tragado por um deles. Cheguei a levar ao rosto e rogar silenciosamente por uma força misteriosa que me arrebatasse com a força de um raio para longe da minha aflição.
Apenas caminhei sem rumo, deixando meu coração me guiar para qualquer lugar, longe das multidões. Quanto mais longe eu ia, mais minha vida parecia escapar do meu peito. Quanto mais eu caminhava em direção ao horizonte distante e vazio, mais minha solidão parecia se perder no sonho vago daquela noite fria de junho.
Logo o mar prateado se desenhou adiante, refletindo as estrelas no céu como um espelho refletindo toda a beleza do universo. O brilho da Lua banhava a areia dourada da praia e o vento soprava como uma canção que ecoava do fundo do mar.
A areia fria e macia sobre os meus pés tinha o aspecto das nuvens. O mar parecia um lençol bordado de prata e escuridão. As luzes da cidade já estavam longe, remotamente escondidas por trás de uma vaga névoa de esquecimento na minha cabeça.
Eu só queria fugir, embora não soubesse para onde. Era um instinto cego e voraz que me arrancava do chão e me lançava nessa ânsia absurda de se perder para se encontrar.
Uma angústia terrível oprimia meu peito. Me sentia só na multidão e nada fazia sentido a não ser o absurdo da minha própria vida.
Me sentia perdido como um pássaro que se perdeu na tempestade. É horrível sentir-se perdido assim; sem um farol ou um porto para repousar o coração num mundo cheio de incerteza e solidão.
Não encontrei repouso em nenhum coração humano. O mundo se tornou uma fonte de angústia, desprezo e escárnio constante. Minha consciência torturada se consumia cada vez mais na sua própria inanição. Meu orgulho foi violado tantas vezes e viver passou a ser uma humilhação dolorosa e abjeta para mim.
Mas ali estava toda aquela beleza oceânica diante de mim. As ondas que se quebravam nos rochedos e o vasto horizonte entre o mar e imensurável escuridão do céu. Algo misterioso, belo e sombrio me segurava pelas mãos. O murmúrio das ondas seduzia minha imaginação como um canto de sereia vindo das profundezas do oceano.
Ao longe, a luz de um farol cortava a escuridão e abria uma brecha nas trevas.
Eu sabia que ali era o fim da minha caminhada. Era ali, naquela sepultura fria, que se apagava a última centelha do meu pensamento. Sabia que o oceano seria meu último repouso e minha última inspiração na vida. Eu não desejava mais nada além de me tornar uma alma oceânica; me aniquilar por completo. Não havia medo, não havia dor. Apenas uma paz e uma plenitude que eu jamais sentira em toda a minha vida.
A lua e as estrelas foram as únicas testemunhas da minha aniquilação. Delas não veio nenhum juízo. Foram testemunhas compreensivas e piedosas do meu desespero e da minha mais profunda alegria.
Mas não foi o mar, nem a Lua, nem as estrelas que me mataram. Quem me matou foi o próprio mundo e, é claro, minha própria fraqueza perante a vida. Talvez eu tenha sido fraco, ridículo e mesquinho. O mundo certamente me julgará assim.
Mas o mar devolveu a vida ao meu coração, que já estava morto a muito tempo. E esse talvez tenha sido o único momento em que fui verdadeiramente honesto na minha vida.
Janielson Alves de Araújo.