Me Conformei Mas e Agora?

Gosto quando me sinto luneta, que é para ver mais de perto o que não consigo ver daqui.

Gosto quando me sinto telescópio, que é sobre enxergar além do que eu vejo.

Gosto quando me sinto microscópico, que é quando vejo até o que não dá para ver.

Em razão da profundidade do sentir:

As vezes me sinto sentimentos. As vezes me sinto reações. As vezes me sinto cores e as vezes me sinto animações. Mas sempre, sempre, sempre me sinto sensações.

Ultimamente tudo tem me ofendido um pouco. Me entristeço com pouco. Me silencio com facilidade.

E pela riqueza dos dias na simplicidade de viver:

Ultimamente tenho tido muitos questionamentos, tipo a dúvida do que aconteceu em setembro de 2023. Tenho vontade de voltar a infância. Criar uma máquina do tempo e não usar, só para ter o poder da escolha e a certeza de que tudo pode vir a ficar a bem. Queria um Jeep. Gostaria de abraçar um tigre. Passaria uma tarde toda inovando receitas. Adoraria jogar sudoku por tempo indeterminado. Preferiria não ter tantas pendências futuras. Aceitaria fugir com quem eu gostaria que me pedisse. Concordaria em qualquer coisa que me dissesse se falasse daquele jeito desconcertado que eu gosto de ouvir. Jogaria The Simpsons Hit & Run agora se pudesse. Fotografaria uma montanha de pertinho se na minha frente ela estivesse. O levaria comigo. Me incomodou perceber que o incluo em meus planos. Me incomodou mais estar incomodada do que ܁conformada. Queria ter estado em São Paulo em 1922. Conhecido de perto Di Cavalcanti. Perguntaria o que ele gosta de fazer as quatro da tarde. Ou qual seu bolo favorito. E se eu não fosse escritora? Esse diploma na minha estante diz o quê exatamente? Achei engraçado quando me vi a um passo de entender a complexidade que se passa na mente de um escritor. São palavras afoitas. Gosto de ver aspirantes e seus sonhos. Poderia parar de me importar com dinheiro. Moraria numa estrela. Como será que seria a varanda de lá? Tenho saudade de patinar. Não quero voltar para São Paulo. Gostaria de me reconectar com a minha alma. E a alma existe mesmo? Seria um espectro luminoso? Uma teoria? Não consigo anuir a ideia de estarmos em um mundo sem resposta - viver o processo, mas e depois? Minha terapeuta sempre diz que eu vou além da conta. Será por isso que sou renomada na editora? Ando cansada da arquitetura. Adoraria ajudar na construção daquela casa tão sonhada. Achei legal perceber a semelhança dos gatos com a cerâmica. Estavam quase camuflados. Guardaria um retrato do momento em que me ajudou a descer as escadas inacabadas da casa que eu gostaria de ajudar a crescer. Subiria num farol mas temo a altura. Amaria que aquele cantor viesse para o Brasil. Tenho ciúme das músicas dele. Também sinto ciúmes daquele que sente de mim. Notei que o tornei o único sujeito discreto desse aforismo e me ܁conformei com essa ideia.

Ágata Lazuli
Enviado por Ágata Lazuli em 20/01/2024
Reeditado em 16/03/2024
Código do texto: T7981029
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