Respondendo Schopenhauer

Talvez a vida seja isso mesmo, um pêndulo que oscila entre dois extremos, sofrimento e tédio. Talvez a tão aclamada alegria, felicidade, boa aventurança, não seja nada senão um cessar de sofrimento momentâneo. Talvez ela simplesmente não exista, porque a felicidade não tem corpo próprio, tal como o escuro. O escuro é a ausência de luz, ele não tem uma substância própria, ele é justamente a ausência de uma substância. Assim deve ser a felicidade em sua essência, uma falta de sofrimento, um alívio passageiro.

Talvez não dê para ser feliz para sempre, pois isso seria o equivalente a prolongar momentos que existem apenas enquanto minúsculas parcelas de tempo em nossas vidas. Prolongar o improlongável. Não obstante dá muito bem para sofrer a vida toda. Já nascemos manifestando esse sofrer. O chorar do bebê, a melancolia do adolescente, a depressão do adulto, o desânimo do velho. O sofrimento, ele sim, esteve, está e estará conosco sempre, fiel à nossa condição ontológica. Talvez ser homem é ser sofrido.

Em breves momentos de nossa vida conseguimos nos anestesiar desse sofrimento inerente à nossa natureza. Talvez as alegrias sejam flashes... aquele beijo que queríamos que fosse eterno, aquele abraço apertado com gosto de lar, a palavra aconchegante de quem amamos no ouvido e na alma. Tudo passa, sobra a saudade, o tédio e o sofrimento. Por não serem realmente verdadeiros, tais momentos não devem ser buscados por aquele que quiser viver em paz. A luz é real, é positiva no sentido de não ser o nada (negativo), e a escuridão, que é a falta de luz, não é positiva pois ela é justamente o nada, portanto o negativo. Assim também é o sofrimento algo positivo, pois ele se faz real, enquanto a alegria é o negativo; aquele tem substância, este não.

Façamos o seguinte cada um de nós que deseje viver em paz: contemplemos o universo a fim de nos distrair do tédio e nos livrar do sofrimento o máximo possível.