MINHA DOCE AMARGA VIDA DE SISIFO

Madeixas escondem minha face

Incultas são as horas de labor

Nada é real, me torna ao caos

Havendo ainda o retornar da dor

Ausente assim, faz-se o mito em mim

Difuso e cruel, o sonho se perde

Onde viver, senão nessa busca?

Cada momento é páreo inconstante

Encontro de gozo e dor dissonantes

Almas que vagam no abismo profundo

Mergulham na lida em busca da vida

Alcançam somente um gozo exaurível

Refém dos anseios que brotam perenes

Grotesco e atroz, o mágico retorno

Avança ao descaso, ao acaso do novo

Viver é migrar em retas disformes

Ilhada, inteira, na busca do todo

Difusa no auge que emerge das horas

Ausente, presente, destino aviltoso

Divo me torno na dor do martírio

Esfera do cosmo, do pleno delírio

Serpenteio entre vales, angústias sentidas

Infértil se torna a semente em flor

Sinas marcadas revezam a jornada

Isentas de culpas, de amor, desamor

Fulgente, o sol da justiça renasce

Ofuscas os olhos que brilham sem cor.