Após o Auto Extermínio Mairon César redigiu esse texto..,.Facetas de um Suicida

Acordei em um lugar que não reconheço, envolto por uma escuridão densa e opressiva. O ar é pesado, como se cada respiração fosse um esforço titânico. Não há luz, não há calor, apenas um frio que penetra até os ossos. O silêncio é ensurdecedor, mas, ao mesmo tempo, é preenchido por ecos distantes de vozes que não consigo identificar. Sinto que estou em um limbo, um espaço entre a vida e a morte, mas não consigo lembrar como cheguei aqui.

A memória do meu último momento de vida é nebulosa. Lembro-me de uma dor insuportável, uma sensação de desespero que me consumia por dentro. A ideia de que a única saída era o fim, a única forma de escapar do sofrimento que me cercava. E assim, tomei a decisão que me trouxe a este lugar. Agora, no entanto, a realidade do que fiz pesa sobre mim como uma âncora. O que eu realmente esperava encontrar aqui?

As sombras ao meu redor parecem se mover, como se estivessem vivas. Sinto uma presença, mas não consigo ver nada. É como se o próprio lugar estivesse me observando, avaliando minha dor e meu arrependimento. A cada momento que passa, a solidão se torna mais intensa. O silêncio se transforma em gritos, ecos de memórias que não consigo apagar. Vejo rostos que amei, que feri, que deixei para trás. A culpa me consome, e a dor que pensei ter deixado para trás agora se intensifica.

Aqui, não há tempo. Os minutos se arrastam, e as horas se confundem. A eternidade parece se estender diante de mim, um deserto sem fim. Pergunto-me se alguém sentiu minha falta, se alguém se lembrou de mim. A ideia de que minha ausência não fez diferença é um golpe ainda mais profundo. O que eu realmente deixei para trás? Um vazio? Uma lembrança? Ou talvez um alívio para aqueles que não consegui suportar?

A escuridão ao meu redor começa a se dissipar, revelando vislumbres de um passado que eu gostaria de esquecer. Vejo momentos de alegria, mas eles são rapidamente ofuscados por lembranças de dor e tristeza. A luta interna que me levou a este lugar se torna mais clara. Eu não queria morrer; eu queria que a dor parasse. Mas agora, percebo que a dor não desapareceu. Ela se transformou, se intensificou, e agora é uma parte de mim, uma sombra que não posso escapar.

Sinto uma presença mais forte agora, uma energia que parece se aproximar. É como se algo ou alguém estivesse tentando se comunicar comigo. Uma voz suave, mas firme, ecoa em minha mente. "Você não está sozinho", diz. "A dor que você sente é real, mas não é o fim. Há esperança, mesmo aqui." As palavras ressoam em meu ser, mas a dúvida se instala. Como posso ter esperança em um lugar como este? Como posso acreditar que há algo além da escuridão que me envolve?

A presença continua, insistente. "Você tem o poder de mudar sua história, mesmo agora. A vida é feita de escolhas, e cada escolha pode levar a um novo caminho." Sinto uma centelha de algo que não experimentei há muito tempo: a possibilidade. A ideia de que, mesmo em meio ao desespero, ainda há uma chance de redenção. Mas como posso encontrar essa redenção quando tudo o que vejo é dor?

A escuridão começa a se dissipar um pouco mais, e eu percebo que, embora esteja cercado por sombras, também há uma luz tênue. É fraca, mas está lá, como uma estrela distante em um céu noturno. A luz representa a esperança, a possibilidade de um novo começo. E, por um breve momento, sinto uma onda de determinação. Se eu puder encontrar essa luz, talvez eu possa encontrar um caminho de volta.

A jornada não será fácil. Sei que a dor não desaparecerá instantaneamente, mas talvez, apenas talvez, eu possa aprender a viver com ela. A presença ao meu lado parece sorrir, e eu sinto que não estou mais sozinho. A escuridão ainda está presente, mas agora, ao invés de me consumir, ela se torna um pano de fundo para a luz que estou começando a ver.

E assim, mesmo no Zinferno, onde a dor e o desespero parecem reinar, uma nova esperança começa a brotar. A vida é uma luta constante, e eu estou disposto a lutar. Afinal, mesmo nas profundezas da escuridão, a luz pode ser encontrada. E, com essa luz, talvez eu possa finalmente encontrar a paz que tanto busquei.

Renato Nascente
Enviado por Renato Nascente em 23/11/2024
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