SOMBRAS PERSEGUIDORAS - Um conto em forma de acróstico (Republicação)

((S)onhos, premonições, visões, tudo concorria para o desequilíbrio emocional de Hermes, seu sossego era constantemente interrompido.

((O) seu mundo parecia ser outro, não conseguiu constituir família, foi abandonado pela mãe em tenra idade e criado por um mendigo.

((M)enino ainda perdeu seu protetor que faleceu devido a doença crônica, perambulou pelas ruas até cair em um orfanato. Não tinha parentes para pleitear sua guarda.

((B)astou um descuido para fugir dalí. Novamente nas ruas Hermes passou a roubar até ser apreendido. Na casa de detenção para menores começou a ver sombras. Elas o atormentavam.

((R)ia de si mesmo, às vezes chorava sem motivos, para ele nada dava certo. Uma família o adotou penalizada com sua situação e lhe deu o conforto de um lar. Ele não soube aproveitar e criou diversos problemas.

((A) sua vida se tornou um inferno, já adulto começou a trabalhar muma fazenda, mas as sombras lhe perseguiam sempre quase levando-o a loucura.

((S)aiu da fazenda e procurou a cidade grande. Empolgou-se num emprego temporário, mas dormia quase ao relento, o frio o incomodava. Pegou pneumonia e foi parar em um hospital público. Suas companhias eram as sombras.

((P)edia ajuda mas não tinha sucesso. Queria saber o motivo de ver essas malditas sombras. Fugiu do hospital por não agüentar tamanho desespero mental.

((E)ncontrou um pouco de paz embaixo de um viaduto junto a outros moradores de rua. Se alimentava junto com eles, nem conseguiar andar direito e tossia muito.

((R)estos de comida lhe serviam e um velho cobertor aliviava o frio da noite. Teve uma visão muito importante, alguém lhe revelaria o motivo de todo seu sofrimento.

((S)entiu suas pernas paralisarem, sua visão ficou turva, ficou na dependência de seus companheiros de miséria. Alguém estava ali, em forma de sombra, para lhe mostrar a verdade.

((E)le tomava consciência de tudo, Hermes sabia agora porque sofria demasiadamente. Uma das sombras tomou forma definida e se apresentou a ele. Mostrou todo o seu mal cometido.

((G)uardara ele no coração muito ódio, havia assassinado centenas de inocentes, mentia, roubava e enriquecia as custas de atrocidades cometidas, tomara bens e dinheiro de pessoas honestas.

((U)ma a uma as sombras foram se aproximando e tomando suas formas originais, Hermes ia reconhecendo todas, lágrimas de arrependimento rolavam pelas suas faces então envelhecidas como se o tempo houvesse passado.

((I)nocentes que foram torturados e mortos por ele alí estavam para lhe cobrar justiça. Exigiam o seu arrependimento. Hermes só chorava sem ter a mínima noção de lugar e tempo, estava arrasado.

((D)ormiu para este mundo mas acordou para a realidade espiritual, estava alí diante daqueles a quem fez tanto mal, eles tinham corpos intactos enquanto o dele estava em farrapos. Sentia dores terríveis e nada podia fazer.

((O) seu mundo agora era aquele onde o sofrimento imperava, tinha de amargar todo o sofrimento que viria pela frente. Não mais via sombras mas sim as imagens daqueles de quem roubou as vidas.

((R)ir não conseguiria mais, mesmo que tentasse. Andava com sacrifício vendo os pés com bolhas e feridas. Suas sombras desapareceram definitivamente, não mais o importunavam. Eram livres agora.

((A) sua mente não tinha mais o controle próprio, obedecia ordens superiores que tinha de culprir sob pena de castigo pior. Trabalhos forçados o aguardavam, não podia recusar.

((S)onhos, premonições, visões, ainda o perseguiam, deixavam-no exausto, sabia do seu destino e dos males que recairiam sobre ele. Pobre Hermes!

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>>>Publicado originalmente em 02/09/2019<<<

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 23/11/2023
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